domingo, 9 de setembro de 2012

Sugestão de livro: Mulheres que correm com os lobos - mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem Clarisse Pinkola


Autor: Clarissa Pinkola Estés
Editora: Rocco
ISBN: 8532504442
Ano: 1994
Páginas: 627
ISBN: 8532504442
Tradutor: Waldéa Barcellos


Resenha por: Pri S


Para começar: não, este não é um livro de auto-ajuda. E digo isso porque muitas pessoas me perguntaram a respeito dessa classificação do livro quando descobriram que eu o estava lendo.
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Ele é o resultado da vivência pessoal, profissional e de estudo da autora que é uma analista junguiana e se autodenomina "cantadora", isto é, uma pessoa que gosta de contar estórias, lendas e mitos desde sempre - algo que ela afirma ter aprendido com sua própria família.
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Mas é um livro para profissionais da área de Psicologia que tenham uma preferência pela abordagem da Psicologia Analítica ou pode ser lido por qualquer pessoa? Qualquer pessoa que se interesse pelas especificidades das vivências femininas vai tirar boas experiências do livro. Profissionais da área "saem ganhando" no sentido de possuírem previamente uma familiaridade com os conceitos junguianos nos quais a autora fundamenta suas análises ao longo da escrita. Mas todos os interessados podem ler porque o discurso de Clarissa fala a qualquer um de nós. E ela aborda as mesmas coisas de maneiras diferentes até esgotar as variadas formas de explicação que podem ser utilizadas para transmitir uma ideia. Isso até faz com que o livro pareça repetitivo em alguns momentos - mas, na verdade, ela apenas quer deixar absolutamente claro, para qualquer pessoa, aquilo sobre o que ela está falando.
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A autora faz uso do arquétipo da mulher selvagem para mostrar quem é a mulher de fato, quais são suas necessidades, suas dificuldades, sua forma de estar no mundo. E utiliza a figura da loba para concretizar esse lado instintivo, selvagem, o que há de mais visceral em cada uma de nós, mulheres.
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Clarissa, durante suas pesquisas e seu trabalho com as próprias analisandas que passaram por seu consultório, foi percebendo que as mulheres vinham apresentando medos, posicionamentos frágeis, bloqueios e falta de criatividade e também um acúmulo de funções familiares, profissionais e sociais que as afastavam cada vez mais do que verdadeiramente elas eram. Como se a natureza selvagem estivesse sofrendo uma domesticação ao longo dos anos e aprisionado as mulheres, deturpando seus valores, necessidades e sua espontaneidade.
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O objetivo de Clarissa é que as mulheres (re)conscientizem-se de quem são. Retomem o poder. Busquem o auto-conhecimento e sejam capazes de se conectarem novamente com  as características saudáveis e instintivas da mulher selvagem, para que posssam viver mais plenamente, eliminando culpas, ocupando seu lugar no mundo com segurança e sendo mais felizes.
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De que modo ela faz isso? Em cada capítulo do livro ela narra algum mito, uma história de contos de fada, uma lenda folclórica de diversos povos para ilustrar fases ou características femininas, sempre correlacionando-as ao reencontro com a mulher selvagem que cada mulher tem dentro de si. Ela "destrincha" os contos, fazendo uma leitura à luz da Psicologia Analítica, trazendo conceitos Junguianos traduzidos de uma forma a se tornarem mais acessíveis, dentro do possível, e esclarecedores dos pontos cuja autora aborda.
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Além de conhecermos lendas, mitos, contos de diversos lugares do mundo, também somos sensibilizados à psicologia feminina, sentimentos e situações comuns pelas quais a maior parte das mulheres passa, de uma maneira ou de outra, e somos convidados a refletir sobre a interpretação dos mitos, a forma como eles se apresentam concretamente nas nossas vidas e de que modo podemos assumir o controle e tornar aquele aprendizado teórico numa transformação da nossa visão de mundo, melhorando a nossa qualidade de vida, aumentando a autoestima, retomando as rédeas de nossas vidas em outras bases e parando de nos desculpar por termos, sim, uma psicologia diferente da masculina.
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Não considero o livro de fácil leitura e ele não possui uma linguagem simplificada. Ele também não vai fornecer respostas prontas, receitas e "dicas" fechadas. Ele merece uma leitura calma, uma boa capacidade de interpretação e tem como pré-requisito o gosto pelas estórias, lendas e mitos e o interesse nas interpretações sob o viés da psicologia Analítica.
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No geral, foi um livro que me encantou e que será relido outras vezes, com calma, saboreando cada lenda e o tom de "senta que lá vem estória" que é típico da autora. Super indico e vou me abster de dar detalhes mais específicos sobre o conteúdo da obra. Porque são tantas estorinhas, tantas explanações, tantos temas diferentes que eu não daria conta e nem seria justa ao "pinçar" algum fragmento sem o contexto devido.
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Segue trechinho da contracapa:
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"Mulheres que correm com os lobos identifica a essência da alma feminina, sua psique instintiva mais profunda, com o arquétipo da mulher selvagem, e propõe o resgate desse passado longínquo, como forma de atingir a verdadeira libertação."

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