quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Lojas Marisa e beleza. Tudo vale a pena?







A rede varejista de roupas Marisa fez essa propaganda que eu considero um desserviço às Mulheres. De vez em quando retorno ao assunto da padronização e do sofrimento das mulheres no mundo em prol de uma beleza que não é a sua. Cada mulher é individual, cada uma traz em si a história e a beleza que são contadas em cada pedaço de seu físico, de suas emoções e de sua alma.
Não vejo problemas em se saber das novidades estéticas, dos cheiros, da boa comida, dos exercícios físicos. Vejo com bons olhos a busca pela beleza e harmonia visual. As próprias deusas olimpianas valorizavam a beleza, tanto que disputaram-na no episódio do "pomo da discórdia". 
Quero dizer que não faço apologia à gordura, não conheço uma mulher gorda satisfeita, logo não vou dizer que é uma coisa normal e tranquila. O problema de comerciais como esse é que eles propagam a coisa certa de maneira errada. Não considero errado preparar-se para o verão, tão pouco cuidar da alimentação. O problema é que a pessoa tomou papel secundário em sua própria vida em prol de usar uma peça de roupa. Privou-se de viver durante o ano, fazendo com que sua alimentação fosse "infeliz" como ela mesma citou. 
Quem disse que preparar-se para o verão é uma coisa necessariamente infeliz? Sopas não precisam ser ralas, ficar bela não precisa ser dolorido. 


Por fim, achei esse texto na Internet mas não encontrei o autor, mas é de muita sensibilidade:



...O corpo muda… cresce. Não podem pensar, sem ficarem psicóticas que podem entrar no mesmo vestido que usavam aos 18.




Entretanto uma mulher de 36, na qual entre a roupa que usou aos 18 anos, ou tem problemas de desenvolvimento ou está se auto-destruindo. Nós gostamos das mulheres que sabem conduzir sua vida com equilíbrio e sabem controlar sua natural tendência a culpas. Ou seja, aquela que quando tem que comer, come com vontade (a dieta virá em setembro, não antes; quando tem que fazer dieta, faz dieta com vontade não se saboteia e não sofre); quando tem que ter intimidade com o parceiro, tem com vontade; quando tem que comprar algo que goste, compra; quando tem que economizar, economiza.


Algumas linhas no rosto, algumas cicatrizes no ventre, algumas marcas de estrias não lhes tira a beleza. São feridas de guerra, testemunhas de que fizeram algo em suas vidas, não tiveram anos ‘em formol’ nem em spa… viveram!


O corpo da mulher é a prova de que Deus existe. É o sagrado recinto da gestação de todos os homens, onde foram alimentados, ninados e nós, sem querer, as enchemos de estrias, de cesárias e demais coisas que tiveram que acontecer para estarmos vivos.


Cuidem-no! Cuidem-se! Amem-se! A beleza é tudo isto. Tudo junto!

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Apolo e Dafne



Apolo era considerado um ás da pontaria, desde que abatera a serpente Tifão, a fera que perseguira sua mãe, Leto, quando o deus era ainda criança. Um dia Apolo caminhava pela estrada que margeava um grande bosque, quando se encontrou com Eros. O jovem deus, filho de Afrodite, estava treinando a sua pontaria, solitariamente, em cima de uma pedra.

mitologia.huum
Sem ser notado, Apolo parou para observar a postura do jovem. Com um dos pés escorado sobre uma saliência da rocha, o deus do amor procurava ganhar o máximo de equilíbrio para assestar com perfeição a pontaria. Seu braço esticado, que segurava o arco, era firme sem ser demasiado musculoso; o outro, encolhido, segurando a flecha, tinha o cotovelo apontado para suas costelas, enrijecendo o seu bíceps; todo o conjunto, desde o porte até a dignidade dos gestos, demonstrava grande elegância, e mesmo os músculos das pernas pareciam distendidos, como a corda presa às duas extremidades do arco.

Apolo não conseguiu deixar de sentir uma certa inveja diante da graça do seu involuntário rival. Não podendo mais se conter, saiu das sombras e revelou ao deus do amor a sua presença.

— Olá, jovem arqueiro. Treinando novamente a sua pontaria? — disse Apolo, pondo um indisfarçado tom de ironia na voz.

— Sim — disse Eros, sem virar o rosto para o outro. — Quer treinar um pouco, também?

Apolo, imaginando que o outro debochava dele, reagiu com inesperada rudeza:

— Ora, e quem vai me ensinar alguma coisa? Você?

Eros, guardando suas setas, já se preparava para se retirar, quando Apolo o provocou novamente:

— Vamos, treine, treine sempre, garotinho, e um dia chegará a meus pés! — disse o deus solar, com um riso aberto de triunfo.

Eros, no entanto, revoltado com a presunção do deus, sacou de sua aljava duas flechas: uma de ouro e outra de chumbo. Seu plano era acertar em cheio o peito de Apolo, com a primeira flecha.

— Vamos provar agora, um pouco, da minha má pontaria! — disse o deus do amor, mirando o coração de Apolo.

Num segundo a seta partiu, assobiando ao vento e indo cravar-se no alvo com perfeita exatidão. Apolo, sem perceber o que atingira seu peito — pois as flechas do deus do amor tornam-se invisíveis assim que atingem as vítimas —, sentou-se ao solo, abatido por um langor nunca antes sentido.

Mas Eros ainda não estava satisfeito. Por isso, enxergando Dafne, a filha do rio que se banhava no rio Peneu, mirou em seu coração a segunda flecha, a da ponta de chumbo, e a disparou. Enquanto a primeira seta provocava o amor, esta, endereçada a Dafne, provocava a repulsa. Assim, Eros dava início à sua vingança.

— Divirta-se, agora! — disse Eros, sumindo-se no céu com seu arco. Apolo, após recuperar suas forças, ergueu-se e entrou no bosque, como que impelido por alguma atração irresistível. Tão logo atravessou as primeiras árvores, seus olhos caíram sobre a bela ninfa, que secava os cabelos, torcendo-os delicadamente com as mãos.

— Se são belos assim em desalinho, como não serão quando arrumados? -perguntou ele, já bobo de amor.

A ninfa, escutando a voz, voltou-se para o lugar de onde ela partira. Assustada ao ver que aquele homem de louros cabelos a observava atentamente, juntou suas vestes e saiu correndo, mata adentro. Apolo, num salto, ergueu-se também.

— Espere, maravilhosa ninfa, quero falar com você.

Nunca em sua vida Dafne havia sentido tamanha repulsa por alguém como sentia pelo majestoso deus solar. O pior e mais feio dos faunos não lhe parecia no momento mais odioso do que aquele homem que a perseguia com fúria.

— Afaste-se de mim! — gritava Dafne, enojada. Apolo, acostumado a ser perseguido por todas as mulheres, via-se agora repelido de forma tão definitiva.

— Por que foge assim de mim, ninfa encantadora? — dizia, sem compreender. Sem saber como agir diante de uma situação tão inusitada, o desnorteado deus pôs-se a falar de si, da sua beleza tão elogiada por todos, de seus dotes, suas glórias, seus tributos e as infinitas vantagens que Dafne teria em juntar-se a ele, o mais cobiçado dos deuses. Mas o mais belo dos deuses desconhecia um pouco a mentalidade feminina, senão teria falado mais da bela deusa em vez de falar tanto de si próprio.

Ao perceber, porém, que a corrida desenfreada da jovem acabaria por deixá-la extenuada, o deus gritou:

— Espere, diminua o seu passo que diminuirei também o meu! A ninfa, reconhecendo a gentileza de seu perseguidor, diminuiu um pouco o ritmo.

Apolo, no entanto, que diante da diminuição da distância vira aumentar os encantos da sua amada, acelerou involuntariamente o seu passo, renovando o terror na amedrontada Dafne.

— Mas que canalha! — indignou-se a ninfa, tomando novo impulso para a corrida, mas já estava exausta e não era páreo para Apolo, o deus do astro que jamais se cansa de percorrer o Universo, todos os dias.

Sentindo um peso nas pernas, Dafne voltou o rosto aterrado para trás e percebeu que as mãos do deus quase tocavam os seus fios de cabelo. Contornando a mata, retornou outra vez à margem do rio Peneu, clamando pela ajuda do velho rio:

— Socorro, Peneu! Faça com que eu perca de vez esta beleza funesta, já que ela é a causa de todos os meus sofrimentos! — disse, disposta a entregar à natureza todos os seus dons em troca da liberdade.

Dafne, a alguns passos do rio, deu um salto, pretendendo atingir a água. mas seu tornozelo foi agarrado pela mão firme de Apolo, fazendo com que seu corpo caísse sobre a grama verde e fofa das margens. Um suspiro forte escapou de seus lábios entreabertos, com o impacto da queda. Ainda tentou rastejar em direção à água, porém sem sucesso. Apolo, cobrindo-a de beijos, recusava-se a largá-la. Finalmente, com um suspiro de alívio, a ninfa sentiu que seu corpo começava a se recobrir com uma casca áspera e grossa, enquanto seus cabelos viravam folhas esverdeadas. Descolando finalmente seus pés da boca do agressor, Dafne sentiu que eles se enterravam na terra, transformando-se em sólidas e profundas raízes.

Apolo, ao ver que sua amada estava para sempre convertida numa árvore — um loureiro -, ainda tentou extrair do resto de seu antigo corpo um pouco do seu calor, abraçando-se ao tronco e procurando-lhe os lábios. Não encontrou a suavidade do antigo hálito da ninfa, mas apenas o odor discreto da resina.

Apolo, desconsolado, despediu-se levando consigo, como lembrança, algumas folhas, com as quais enfeitou sua lira. Enfeitou também a fronte com estas mesmas folhas, em homenagem a Dafne — a mulher que nunca foi nem jamais será sua.


Fonte: mitologia.templodeapolo

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

De Sartre ao Cisne dúbio de cada um: o inferno são os outros?

"Entretanto, cada um tem no seu próximo um espelho, no qual vê claramente os próprios vícios, defeitos, maus hábitos e repugnâncias de todo o tipo. Porém, na maioria das vezes, faz como o cão, que ladra diante do espelho por não saber que se vê a si mesmo, crendo ver outro cão".      Schopenhauer


Você já deve ter ouvido falar nesta frase: "O inferno é o outro." Sartre foi quem a criou. E representa muito bem a dinâmica da projeção da Sombra.

Se você meu caro leitor assistiu o filme Cisne Negro, pode verificar a ocorrência desse fenômeno. Natalie Portman (Nina) projeta sua Sombra (atributos renegados por sua persona) em Mila Kunis (Lily). Nina se sente assombrada, perseguida por Lily.





Porém, são seus próprios demônios que a perseguem. "Ela é o maior obstáculo para si mesma", conforme ouviu de seu Ânimus, representado no filme por seu professor.

É o que muitos de nós, fazem muitas vezes: enxergam no outro aquilo que dentro de si mesmos mais os assombra.

Nina renega seu lado "cisne negro" por estar tão identificada com sua persona lindinha, certinha, bonitinha, "branquinha." Porém, para representar o papel de protagonista na peça, precisa desenvolver o outro lado, aquele que vai além do socialmente aceito. É a necessidade de desenvolver e expressar (o ideal que seja conscientemente) a Sombra.

Como tem medo desses atributos em sua natureza, ela os projeta em Nina. Sendo ela o seu oposto: sensual, rebelde, solta e espontânea, vive em sua vida o que Nina tem tanto horror de fazer, por mais que, em seu íntimo, deseje viver assim.

Quantas vezes nós não nos sentimos ao mesmo tempo fascinados e raivosos diante daquela pessoa que tem um jeito de ser que, no fundo, queríamos ter e expressar? Sentimos inveja? Mas num mesmo nível, admiramos. Somos atraídos e, simultaneamente, repelidos por essa pessoa. Na verdade, não é a pessoa em si, mas aquilo que ela representa: o NÃO VIVIDO em nós. Eis a Sombra.

O problema da projeção se tornar perigosa ocorre quando não se vê o outro como o reflexo de nós mesmos. O outro vira o inimigo-mor que precisa ser aniquilado para que eu não precise ter um espelho que reflita aquilo o que eu reluto em viver, desenvolver, experimentar, expressar. Os preconceitos muitas vezes surgem nesse contexto.

Por fim,

"O inferno são os outros. Projetamos nos outros a nossa realização e aguardamos deles, algo que amenize o vazio que nos habita."   (Sartre)


Referencia:
esqueletodoarmario
yub-universosimbolico

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Matrix e mitologia

          Já faz um tempo que tenho o desejo de unir o pop e o erudito nesse blog. Essa vai ser a primeira experiência. Tenho uma adoração por filmes e séries (e alguns animes) e desde que comecei o blog tenho vontade de escrever sobre Matrix. O filme é mais do que apenas uma obra de ficção e ação. Resgata mitos, arquétipos e nos leva ao contato com a filosofia por meio de de um vasto simbolismo.
           No dicionário etimológico o nome “matrix" é bem sugestivo já que vem do latim "lugar onde alguma coisa se gera." O que as máquinas fazem com o corpo físico das pessoas é uma espécie de gestação. O corpo físico fica encubado e ninguém vive de maneira autêntica, a realidade é criada pelo programa. É mais complexo que a teoria da conspiração realizada pelos meios de comunicação. O filme Matrix vai além. Torna a questão da manipulação da consciência também  uma coisa física.

Numa luta entre homens e máquinas em meados de 2199 a inteligência artificial descobre que a humanidade não passa de pilhas. Dominado pelas máquinas, o homem passou a ser cultivado em eletrodos para poder servir de base energética. Enquanto fica em estado de cultivo para fornecer energia, sua realidade é um grande programa de computador chamado Matrix. Esse programa simula uma realidade falsa durante o estado de sono. O problema é que as pessoas ficam o tempo todo em sono induzido.
E o que isso tem a ver com a questão da mitologia e arquétipo  em Matrix? Neo e Morpheus encontram-se no ano que parece 1999 e  Morpheus exerce um pouco do que o deus grego com o seu nome fazia. O nome Morfeu quer dizer "a forma" e representa o dom desse deus: viajar ao redor da Terra para assumir feições humanas e, dessa maneira, se apresentar aos adormecidos durante os seus sonhos. Morpheus no filme procura a reencarnação do eleito (messias) que acredita ser Neo, e pode entrar e sair do programa e de qualquer realidade alternativa. Assim como o deus olimpiano podia entrar e sair de qualquer sonho.
O que é interessante que o filme é usado inúmeras vezes para exemplificar teorias de conspiração. “Sair da matrix” é uma espécie  de terminologia utilizada para pensar por si mesmo, ser autônomo nas ideias, ser coerente consigo mesmo. 

Outras curiosidades sobre Matrix: (retiradas da internet)


- Quando Neo está com o oráculo, sobre a porta desta há uma placa com os dizeres em latim: “Conhece-te a ti mesmo”. A mesma inscrição que há no Templo de Delfos, construído para o deus Apolo. 



Os nomes dos 3 personagens principais são mensagens também a serem decifradas:


Neo – Além de ser o novo, o redentor é também uma analogia a Noé que no velho testamento é o responsável por um novo mundo. Também através de Neo é possível se escrever One que é Um em inglês e também Eon, que significa ciclo ou era, resultando numa combinação de analogias onde Neo personifica uma Nova Era.

Trinity – Em inglês trinity significa trindade e no filme a trindade formada por Neo, pela própria Trinity e Morfeu tem a missão da salvação da humanidade. Note-se que nas trindades de várias religiões e tradições há a figura feminina.

Morfeu – Morfeu tem a habilidade de assumir qualquer forma humana e aparecer nos sonhos das pessoas como se fosse a pessoa amada por aquele determinado indivíduo. Seu pai é o deus Hipnos, do sono. Os filhos de Hipnos, os Oneiros, são personificações de sonhos, sendo eles Ícelo eFântaso. Morfeu foi mencionado na obra Metamorfoses de Ovídio como um deus vivendo numa cama feita de ébano numa escura caverna decorada como flores.
A droga morfina tem seu nome derivado de Morfeu, visto que ela propicia ao usuário sonolência e efeitos análogos aos sonhos.
Quando uma pessoa augura-se: vá para os braços de Morfeu, significando dormir bem.


domingo, 11 de novembro de 2012

Despedidas



Bem, fiquei muito triste, pois fui procurar um blog de poesias de uma pessoa querida que frequenta O caminho da deusa e não mais encontrei. Eu quero dizer-lhe que nem toda despedida é eterna e deixar-lhe a frase de Fernando Sabino: ...a convivência é feita também de silêncio e distância. Bem, creio que o poeta vá continuar por aqui. 

      Bem, nessa imersão pelo mundo de palavras e poesias neste domingo, encontrei esse belo texto. Creio que é como um bálsamo para a alma e tentei saber mais sobre a autora (sempre catando referências aqui e ali).  Por fim, o que soube é que a autora mora no Canadá e teve a oportunidade de estudar com índios americanos. Aprendeu com eles os fundamentos da medicina xamânica. Além dos ensinamentos que fizeram dela um exemplo de vida, os índios também foram responsáveis pelo nome que a fez ser conhecida mundialmente: Oriah Mountain Dreamer, ou Sonhadora das Montanhas, que significa aquela que gosta de expandir os limites e pode ajudar os outros a fazer o mesmo.
       Se vai ajudar a todos a expandirem suas montanhas eu não sei, mas as palavras são lindas e algumas foram difíceis de "digerir".

Vamos a leitura!

“Não me interessa o que você faz para ganhar a vida. 
Quero saber o que você deseja ardentemente, se ousa sonhar em atender aquilo pelo qual seu coração anseia. 
Não me interessa saber a sua idade. 
Quero saber se você se arriscará a parecer um tolo por amor, por sonhos, pela aventura de estar vivo. 
Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com a sua lua. 
Quero saber se tocou o âmago de sua dor, se as traições da vida o abriram ou se você se tornou murcho e fechado por medo de mais dor! 
Quero saber se pode suportar a dor, minha ou sua, sem procurar escondê-la, reprimi-la ou narcotizá-la. Quero saber se você pode aceitar alegria, minha ou sua; se pode dançar com abandono e deixar que o êxtase o domine até a ponta dos dedos das mãos ou dos pés, sem nos dizer para termos cautela, sermos realistas, ou nos lembrarmos das limitações de sermos humanos. 
Não me interessa se a história que me conta é a verdade. 
Quero saber se consegue desapontar outra pessoa para ser autêntico consigo mesmo, se pode suportar a acusação de traição e não trair a sua alma. 
Quero saber se você pode ver beleza mesmo que ela não seja tão bonita todos os dias, e se pode buscar a origem de sua vida na presença de Deus. Quero saber se você pode viver com o fracasso, seu e meu, e ainda, à margem de um lago, gritar para a lua prateada: ‘Posso!’ 
Não me interessa onde você mora ou quanto dinheiro tem. 
Quero saber se pode levantar-se após uma noite de sofrimento e desespero, cansado, ferido até os ossos, e fazer o que tem de ser feito pelos filhos. 
Não me interessa saber quem você é e como veio parar aqui. 
Quero saber se você ficará comigo no centro do incêndio e não se acovardará. 
Não me interessa saber onde, o quê, ou com quem você estudou. 
Quero saber o que o sustenta a partir de dentro, quando tudo o mais desmorona. 
Quero saber se consegue ficar sozinho consigo mesmo e se, realmente, gosta da companhia que tem nos momentos vazios.”

Beth Michepud






sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Não carregue o mundo nas costas - Atlas o titã

Atlas, também chamado Atlante, era um dos filhos dos titãs Japeto e Climene, irmão de Prometeu, e pertencia à geração divina dos seres desproporcionais, monstruosos, a encarnação de forças da natureza que atuava preparando a terra para receber a vida e os humanos. 

Juntando-se a outros titãs, forças do caos e da desordem, pretendiam alcançar o poder supremo e atacaram o Olimpo, combatendo ferozmente Zeus e seus aliados, que eram as energias do espírito, da ordem e do Cosmos. Zeus trinfou e castigou seus inimigos - que eram escravos da matéria e dos sentidos, inimigos da espiritualização, lançando-os ao Tártaro.

Porém para Atlas deu-lhe o castigo de sustentar para sempre nos ombros, o céu. Seu nome passou a significar "portador" ou "sofredor". Assim punido, passou a morar no país das Hespérides, as três ninfas do Poente: Eagle, Eritia, Hesperatetusa.

Nas terras das Hespérides, Ninfas do Poente, estavam plantadas as maçãs de ouro, que tinham sido o presente de casamento, oferecido pela Terra, nas bodas de Zeus e Hera. A deusa as plantara no jardim dos deuses e, para proteger a árvore e os frutos, deixara sob a guarda de um dragão de cem cabeças e das três ninfas do Poente.

Hércules em seus 12 trabalhos fora incumbido de trazer as maçãs de ouro, porém soube que somente Atlas conseguiria colhê-las. Hércules se propôs a segurar o céu enquanto Atlas colhia as maçãs e ele esperava entregar pessoalmente a Eristeu. Porém, Hércules o enganou, pedindo-lhe para voltar a segurar o céu enquanto ele guardava as maçãs, e fugiu. Por esse motivo, foram construidos os pilares de Hércules e Atlas foi libertado do seu fardo. 

Atlas passou a ser o guardião dos Pilares de Hércules, sobre os quais os céus foramcolocados, e que também eram a passagem para o lar oceânico de Atlântida - o Estreito de Gibraltar, e por isso toda a cordilheira do norte da África, recebeu o nome de Cordilheira de Atlas. Tornou-se o primeiro rei de Atlântida, e por ser o Senhor das águas distantes, além do Mar Mediterrãneo, seu nome nomeou o oceano Atlântico.

Casou-se com Pleione, tendo sete filhas, as Pleiades: Alcyone, Maia, Electra, Merope, Taigete, Celeno e Sterope. Por conhecer o caminho das terras distantes, na cartografia, passou a representar a coleção de mapas da Terra. E por ter sustentado o céu, deu-se o nome de Atlas à 1a. vertebra da coluna cervical - uma referência onde suportava o gigantesco peso a que fora condenado a suportar. 

O mito de Atlas representa o peso das dificuldades cotidianas que pesam sobre nossos ombros e, embora possamos considerar que sejam pesados demais, o que está sobre Atlas, a 1a. vertebra da coluna cervical, é apenas a nossa cabeça, que guarda a nossa mente.

O mito está relacionado ao excesso de incumbências, obrigações, tarefas que aceitamos e não obedecemos a um limite, e nem resguardamos um espaço para atividades relaxantes. Cremos que podemos carregar o mundo nas costas, o que pode causar danos físicos e psicológicos. O complexo de Atlas é uma das doenças relacionadas ao stress da vida moderna.


Fonte: eventosmitologiagrega

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Milton Nascimento - "Travessia"



Existe é homem humano. Travessia”. (João Guimarães Rosa In: Grande Sertão Veredas)



Travessia


Milton Nascimento


Quando você foi embora fez-se noite em meu viver.
Forte eu sou mas não tem jeito, hoje eu tenho que chorar,
Minha casa não é minha, e nem é meu este lugar,
Estou só e não resisto, muito tenho prá falar.


Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar?
Sonho feito de brisa, vento vem terminar,
Vou fechar o meu canto, vou querer me matar.


Vou seguindo pela vida me esquecendo de você,
Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver!
Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer,
Já não sonho, hoje faço com meu braço o meu viver.


Solto a voz nas estradas, já não quero parar
Meu caminho é de pedras, como posso sonhar?
Sonho feito de brisa, vento vem terminar.
Vou fechar o meu canto, vou querer me matar.



Em incontáveis vezes somos forçados a crescer e amadurecer. Assim como o jovem Neoptólemo (clique aqui), que foi obrigado a fazer sua escolha, nós também nos encontramos em situações que uma escolha imediatamente exclui a outra.


A canção fala de amor e de amargura, mas fala também de esperança. O eu lírico da música tem a força de um “morrimento”e um “renascimento” de um sonho. Antes o sonho era feito de brisa tanto que um vento "terminava" com o sonho. Tanto que na segunda estrofe ele fala de querer se matar, e vai esquecendo desse alguém e não quer mais a morte pois tem muito o que viver. E parte para o lado prático da vida, já que não sonha, faz com o braço o próprio viver.


O que aprendo com essa música? Mesmo você sendo forte, ás vezes faz-se noite em sua vida, é natural e sadio viver com certa melancolia por um tempo determinado. Mas essa melancolia não pode definir quem você é. Aprendi que não existe espaço para vítimas no mundo e ninguém liga se sua vida foi difícil até aqui, se você sacrificou a juventude estudando, se sua travessia foi mais complicada.


Sempre vai ter quem vai te julgar por isso. O conceito pré formado vai existir. É parte das pessoas, não são culpadas por serem quem são. Mas, nós somos responsáveis por quem somos. E se um dia nos envergonharmos de quem somos: classe, cor ou travessia, deixaremos de sermos dignos do dom da vida e não mais viveremos apenas existiremos.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O patinho feio, Moiras e importante é ser você!



"Tira, a máscara que cobre o seu rosto
Se mostre e eu descubro se eu gosto
Do seu verdadeiro, jeito de ser
Ninguém merece ser só mais um bonitinho
Nem transparecer, consciente, inconsequente
Sem se preocupar em ser adulto ou criança
O importante é ser você"
Mascara . Pitty


"Nos contos de fadas, as lágrimas transformam as pessoas, fazendo com que se lembrem do que é importante e salvando sua própria alma. Somente um coração empedernido refreia o choro e a união. Entre os sufis existe um ditado, ou melhor, uma oração que pede a Deus que nos magoe: "Dilacere meu coração para que se crie um novo espaço para o Amor Infinito." CLARISSA PINKOLA p. 199






"A ex-dançarina Rosiane Pinheiro, do grupo Gang do Samba, sucesso dos anos 90, não está feliz com o seu corpo atual. Ela, que tem 35 anos, não gostou nem um pouco dos comentários que ela considerou maldosos após ser fotografada, há dois meses, saindo do mar na Bahia. Por isso, ela decidiu emagrecer em um reality show - para que todos possam acompanhar."

     Veja a moça da foto acima. Apesar da decisão de emagrecer aos olhos de quem quiser ver em um programa de TV, Rosiane bate o pé e afirma que em momento algum esteve gorda. Na verdade, ela estava forte. "Acontece que eu sou grandona, e acabo me passando por gorda. Como também tomo medicamentos contra alergia, acabo ficando inchada. Mas nunca estive gorda, e sim, forte", analisou. Rosiane pode ser vítima do que se chama Síndrome do Patinho Feio essa é uma desordem de cunho psicológico assim intitulado baseada no conto de Hans Christian Andersen, em que conta a história de um patinho feio, desengonçado nascido em meio a muitos outros irmãos bonitos. 


         Pinkola retrata o conto do patinho feio como uma história básica em termos psicológicos e espirituais. E o que seria uma história básica? “Aquela que contém uma verdade tão fundamental para o desenvolvimento humano que, sem a incorporação desse fato, o avanço se torna duvidoso e ninguém consegue prosperar sob aspecto psicológico enquanto não perceber essa verdade.” 

        Teria o destino decido a aparência? Para os gregos antigos sim. As Moiras eram seres da mitologia grega que determinavam os destinos humanos, especialmente a duração da vida de uma pessoa e seu quinhão de atribulações e sofrimentos. Eram três irmãs chamadas Cloto, Láquesis e Átropos . Cloto, em grego "fiar", segura o fuso e puxa o fio da vida. Láquesis ("sortear") enrola o fio e sorteia o nome dos que vão morrer e Átropos ("não voltar", ser inflexível) corta o fio. 

            Para a ex-dançarina Rosiane Pinheiro as moiras do fio do destino foram cruéis? Creio que não. Ela, além de linda, nunca foi gorda. Tem uma estrutura grande, musculosa essa história de emagrecer em reality show me lembrou de um trecho do livro mulheres que correm com os lobos: "E o que dizer se você, sendo um cisne, teve de fingir ser um camundongo? E se você teve de fingir ser cinzento, peludo e diminuto? E se lhe faltava um rabo longo e sinuoso para ficar em exibição no dia de andar com o rabo para cima?E se, onde quer que você fosse, você tentasse andar como um camundongo, mas acabasse gingando?E se você tentasse falar como um camundongo, mas a cada vez que tentasse saísse um grasnido? Você não se sentiria a criatura mais infeliz do mundo? A resposta é um inequívoco sim. Então, por que, se tudo isso é tão verdadeiro, por que as mulheres não param de tentar se curvar e se dobrar para assumir formas que não são suas?" 

         Para a psicóloga Junguiana Clarissa Pinkola, as necessidades da alma são encontradas no abrigo das três velhas irmãs que tecem o fio vermelho, ou seja, a paixão, da vida. As várias versões apresentam as Moiras como filhas do Caos, de Érebo, ou ainda de Têmis e Zeus. Na mitologia grega, Moira, no singular, é inicialmente o destino. Na Ilíada, representa uma lei que paira soberana sobre deuses e homens, pois nem mesmo Zeus está autorizado a transgredi-la sem interferir na harmonia cósmica. 

Os fatos expressados no conto segundo Pinkola: 

a) o patinho da história simboliza a natureza selvagem, que, quando forçada a enfrentar circunstâncias pouco propícias, luta instintivamente para continuar viva apesar de tudo; 

b) a natureza selvagem sabe instintivamente aguentar e resistir, às vezes com elegância, às vezes sem muito estilo, mas resistindo assim mesmo; 

c) para a mulher selvagem, a continuidade é uma das suas maiores forças. 

Na história, diversos personagens da comunidade examinam o patinho como "feio" e de um modo ou de outro o declaram inaceitável. Na realidade, ele não é feio. Só não combina com os outros. “É tão diferente que parece um feijão preto num balde de ervilha”. 

A pessoa que sofre da síndrome do patinho feio está a todo tempo preocupada com que os outros estão pensando ou comentando sobre sua aparência, ou sobre seu jeito, e por isso é comum continuar “batendo nas portas erradas mesmo depois de más experiências”. É difícil imaginar como se poderia esperar que uma pessoa assim soubesse quais portas são as certas se ela, para começar, nunca chegou a saber o que é uma porta certa. No entanto, as portas erradas são aquelas que fazem com que voltemos a nos sentir exilados. 

Características do “patinho feio”: 

A) uma pessoa suscetível. Alguém que é facilmente atingível pelo ambiente. Não é uma pessoa que põem o lixo no lixo. Ela põe o lixo para dentro dela mesma; 

B) uma pessoa sem defesa Psicológica. Defesa Psicológica é rejeitar o negativo e fortalecer o positivo. É preencher a mente com o positivo para não ser invadido pelo negativo de novo; 

C) uma pessoa que tem dificuldade de lidar com diferença.
As diferenças serão inevitáveis na vida. Só que elas podem gerar ciúme, inveja, inferioridade, raiva e vontade de manipular o outro. Em todos esses casos a pessoa não funciona com inteligência. Funciona de uma forma automática e nociva sem passar pelo crivo da inteligência. Aceitar a sua realidade, a sua diferença, é aprender a lidar com a situação, é funcionar com humildade, com o pé no chão.

D) o patinho feio pode ser uma pessoa que não enxerga a beleza interna. Todos nós sabemos que vivemos em uma sociedade que valoriza a beleza externa. Essa beleza ajuda em muita coisa inicialmente, mas a pessoa não vai muito longe se não tiver beleza interna. Características de uma personalidade sadia, caráter bem formado, temperamento equilibrado são características internas extremamente essenciais para qualquer conquista. Sem isso não há conquista alguma. Porém, muitas pessoas consideradas sem beleza externa, mas com beleza interna são conquistadoras de amizade, coração, trabalho, sucesso e outras coisas porque aprenderam a enxergar o valor da estrutura interna e se relacionam sem muita dificuldade.



Por fim, penso que a beleza é algo peculiar visto por cada um em momento. SEJA VOCÊ MESMO!
Não, é melhor, mais elegante e muito mais profundo ser o que somos e como somos, deixando que os outros também o sejam.” Clarissa Pinkola