quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Mito do Andrógino de Platão e amor romantico, paixão e alma gêmea

Mito do Andrógino de Platão

  Segundo esta Mitologia, a humanidade era diferente. Não havia dois gêneros, mas três: homem, mulher e a união dos dois. Este último gênero tinha um nome que expressava bem essa sua natureza e hoje perdeu seu significado: Andrógeno. Além disso, seu formato era redondo: suas costas e seus lados formavam um círculo e ele possuía quatro mãos, quatro pés e uma cabeça com duas faces exatamente iguais, cada uma olhando numa direção, pousada num pescoço redondo. Podia andar ereta, como os outros seres humanos faziam, para frente e para trás. Mas podia também rolar sobre seus quatro braços e quatro pernas, cobrindo grandes distâncias, veloz como um raio de luz. Eram redondos porque redondos eram seus pais: o homem era filho do Sol. A mulher, da Terra. E o par, um filhote da Lua.

Sua força era extraordinária e seu poder, imenso. E isso os tornou ambiciosos. E quiseram desafiar os deuses. Foram eles que ousaram escalar o Olimpo, a montanha onde vivem os imortais. O que deviam fazer os deuses reunidos no conselho celeste? Aniquilar as criaturas? Mas como ficar sem os sacrifícios, as homenagens, a adoração? Por outro lado, tal insolência era perfeitamente intolerável. Então...


O Grande Zeus rugiu: Deixem que vivam. Tenho um plano para deixá-los mais humildes e diminuir seu orgulho. Vou cortá-los ao meio e fazê-los andar sobre duas pernas. Isso com certeza irá diminuir sua força, além de ter a vantagem de aumentar seu número, o que é bom para nós. E mal tinha falado, começou a partir as criaturas em dois, como uma maçã. E, na medida em que os cortava, Apolo ia virando suas cabeças, para que pudessem contemplar eternamente sua parte amputada. Uma lição de humildade. Apolo também curou suas feridas, deu forma ao seu tronco e moldou sua barriga, juntando a pele que sobrava no centro, para que eles lembrassem do que haviam sido um dia.


E foi aí que as criaturas começaram a morrer. Morriam de fome e de desespero. Abraçavam-se e deixavam-se ficar assim. E quando uma das partes morria, a outra ficava à deriva, procurando, procurando...


Zeus ficou com pena das criaturas. E teve outra idéia: virou as partes reprodutoras dos seres para a sua nova frente. Antes, eles copulavam com a terra. De agora em diante, se reproduziriam um homem numa mulher. Num abraço. Assim a raça não morreria e eles descansariam. Poderiam até mesmo continuar tocando o negócio da vida. Com o tempo eles esqueceriam o ocorrido e apenas perceberiam seu desejo. Um desejo jamais inteiramente saciado no ato de amar, porque mesmo derretendo-se no outro pelo espaço de um instante, a alma saberia, ainda que não conseguisse explicar, que seu anseio jamais seria completamente satisfeito. E a saudade da união perfeita renasceria, nem bem os últimos gemidos do amor se extinguissem.


E esta é a nossa história. De como um dia fomos um todo, inteiros e plenos. Tão poderosos que rivalizávamos com os deuses. É a história também de como um dia, partidos ao meio, viramos dois e aprendemos a sentir saudades. E é a razão dessa busca sem fim do abraço que nos fará sentir de novo e uma vez mais, ainda que só por alguns momentos (quem se importa?), a emoção da plenitude que um dia, há muito tempo, perdemos.


Não é à toa que aqui e ali, entre os chineses e os hindus, por exemplo, tenham florescido rituais, técnicas e filosofias, cujo objetivo era transformar a energia que nascia deste abraço em energia espiritual e fazer do sexo o caminho para o divino. Algo que, de fato, pudesse preencher o vazio de que somos feitos. Alguma coisa forte o bastante, para nos alçar de novo até o alto da montanha dos deuses. Mas esta história eu conto numa outra vez..

  

O mito e o amor romântico

E qual a ligação do mito com o amor/paixão nos dias de hoje? Na língua Grega, o termo “amor” tem uma tríplice acepção: agapé que significa cura, benevolência; eros que significa amor erótico; filia que significa amizade.
A etimologia do termo nos remete a: “entrar em…”,” ser em…”. Em relação à nós mesmos, o amor pode ser entendido como o “ir ao encontro de nós próprios”, “ entrar no profundo de si”. Assim como na segunda separação dos andrógenos por Zeus e Apolo.
Podemos definir o amor como tudo aquilo que através do desejo, nos move da interioridade para a vida. Ou ainda como a atração que nos inclina para um objeto diferenciado em relação aos outros, para o qual convergem energias, aspirações, desejos e pulsões.
 Paixão, do latim passione = sofrimento, sentimento excessivo; amor ardente; afeto violento. Paixão, palavra de origem Grega derivada de paschein, padecer uma determinada ação ou efeito de algum evento. É algo que acontece à pessoa independente de sua vontade ou mesmo contra ela. De paschein deriva pathos e patologia. Pathos designa tanto emoção como sofrimento e doença. As paixões, entendidas como emoções, mobilizam a pessoa impondo-se à sua vontade e à sua razão.
É uma vivência complexa que geralmente é prolongada, podendo ser duradoura mas raramente perene.
O amor, num sentido amplo, é um forte sentimento de apego. O amor gera desejos positivos e construtivos capazes de nos levar a sacrifícios quotidianos que em condições normais só faríamos por nós mesmos
Amor romântico. Amor obsessivo. Amor apaixonado. Paixão. Estar apaixonado é uma experiência universal à humanidade; faz parte da natureza humana.
 É um sentimento volátil, com frequência incontrolável, que se apodera da mente, trazendo alegria em um momento e desespero no outro.
O que é o amor? Entre as muitas definições está a de que este é um sentimento que nos dá a alegria pela mera existência do ser amado.
O objetivo final do amor, ainda que inconsciente, é encontrar um parceiro apto com quem se unir e ter filhos. Amor romântico. Amor obsessivo. Amor apaixonado. Paixão. Homens e mulheres de cada época e cultura foram "enfeitiçados, amolados e aturdidos" por este poder irresistível. Estar apaixonado é universal à humanidade; faz parte da natureza humana. Além disso, esta magia ataca a cada um de nós praticamente da mesma maneira. Significado especial: Uma das primeiras coisas que acontecem quando você se apaixona é que você vive uma mudança drástica na consciência: seu "objeto de amor" assume o que os psicólogos chamam de "significado especial". Seu amado torna-se singular, único e sumamente importante.
Atenção concentrada: A pessoa possuída pelo amor concentra a atenção quase completamente no amado, com frequência em detrimento de tudo e todos em torno dela, inclusive trabalho, família e amigos. Ortega y Gasset, o filósofo espanhol, chama isto de "um estado anormal de atenção que ocorre em um homem normal". Esta atenção concentrada é um aspecto essencial do amor romântico. Engrandecimento do amado: O apaixonado também começa a super dimensionar, até a exagerar aspectos minúsculos do adorado.
Assim os amantes governam a causa de sua paixão/ para amar suas damas por suas falhas", reflectiu Molière.Como nos iludimos quando amamos. Chaucer estava certo: "O amor é cego."Pensamento intrusivo:mas do amor romântico é a meditação obsessiva sobre o amado. É conhecida pelos psicólogos como "pensamento intrusivo". Você simplesmente não consegue tirar o amado da cabeça. Como Milton foi perspicaz em Paraíso perdido ao colocar Eva dizendo a Adão: "Contigo conversando, esqueço-me de todo o tempo".Fervor emocional: Nenhum aspecto isolado de "estar apaixonado" é tão familiar ao amante do que a torrente de emoções intensas que inundam sua mente. Catulo, o poeta romano, certamente foi arrebatado. Escrevendo para sua amada, ele disse: "Você me enlouquece. / Ver você, Minha Lésbia, tira-me o fôlego. / Minha língua congela, meu corpo/ enche-se de chamas".Ono No Komachi, uma poetisa japonesa do século IX, escreveu: "Deito-me desperta, quente/ as chamas crescentes da paixão/ explodindo, inflamando meu coração" A mulher do Cântico dos Cânticos, a carta de amor hebreu composta entre 900 e 300 a.C., lamentava: "Desfaleço de amor". E o poeta americano Walt Whitman descreveu este turbilhão emocional perfeitamente, ao dizer: "Esta furiosa tempestade galopa por mim — tremo apaixonadamente".
Energia intensa: A perda de apetite e sono tem uma relação direta com outra das sensações esmagadoras do amor: uma enorme energia. Ele também reconheceu claramente que o amante concentra toda sua atenção em uma só pessoa quando ama, ao dizer: "Ninguém pode amar duas pessoas ao mesmo tempo".Os aspectos fundamentais do amor romântico não mudaram em quase mil anos.
Oscilações de humor: do êxtase ao desespero: "Ele deriva pela água azul/ sob a lua clara,/ pegando lírios brancos no Lago Sul./ Cada flor de lótus/ fala de amor/ até seu coração se despedaçar." Para o poeta chinês do século VIII Li Po, o romance era doloroso.
A paixão romântica pode produzir uma variedade de mudanças estonteantes de humor que vão da exultação, quando o amor é retribuído, à ansiedade, desespero ou até raiva quando o ardor romântico é ignorado ou rejeitado. Como coloca o escritor suíço Henri Frederic Amiel, "Quanto mais um homem ama, mais ele sofre". Os povos tâmeis do sul da Índia chegam a ter um nome para esta enfermidade. Eles chamam este estado de sofrimento amoroso de "mayakkam", que significa intoxicação, tonteira e ilusão.
O desejo de união emocional: Esta necessidade assoberbante de união emocional, tão característica do amante, é memoravelmente expressa em O banquete, o relato de Platão de um jantar em Atenas em 416 a.C. Nesta noite festiva, algumas das mentes mais brilhantes da Grécia clássica reuniram-se para jantar na casa de Agaton. Enquanto se reclinam em seus divãs, um convidado propõe que se divirtam com um tópico de discussão, apenas desportivamente: cada um deles deveria descrever e louvar o Deus do Amor.
Todos concordaram. A flautista foi dispensada. Depois, um por um, eles usaram sua vez para louvar o Deus do Amor. Alguns consideraram esta figura sobrenatural a mais "antiga", a mais "honrada" ou a menos "preconceituosa" de todos os deuses. Outros sustentaram que o Deus do Amor era "jovem", "sensível", "poderoso" ou "bom". Mas não Sócrates. Ele começou sua homenagem contando o diálogo que teve com Diotima, a esposa sábia de Mantinea. Falando do Deus do Amor, ela disse a Sócrates: "Ele sempre vive em um estado de necessidade".
"Um estado de necessidade." Talvez nenhuma expressão em toda a literatura tenha apreendido com tanta clareza a essência do amor romântico apaixonado: Necessidade.

 À procura de pistas: Quando os amantes não sabem se seu amor é apreciado e retribuído, eles se tornam hipersensíveis aos sinais enviados pelo adorado. Como escreveu Robert Graves, "Ouvindo uma batida na porta, esperando por um sinal".
Mudança de prioridades: Muitos apaixonados também mudam o estilo do guarda-roupa, os maneirismos, os hábitos, às vezes até os valores para conquistar o ser amado.
O campeão do amor cortesão do século XII, André Capelão, resumiu este impulso escrevendo as palavras: "O amor não pode negar nada ao amor".
Os amantes reorganizam a vida para acomodar o ser amado. Dependência emocional: Os amantes também se tornam dependentes do relacionamento, muito dependentes. Como o Marco Antônio de Shakespeare declarou a Cleópatra, "Tinha eu o coração atado por fios a teu leme". Um antigo poema hieroglífico egípcio descrevia a mesma dependência ao dizer: "Meu coração é um escravo/ se ela me abraça”. 35 O trovador do século XII Arnaut Daniel escreveu: "Sou dela da cabeça aos pés”. 36 Mas Keats foi o mais apaixonado, escrevendo: "Em silêncio, para ouvir teu terno respirar,/ E assim viver para sempre — ou desvanecer até a morte".*  Como os amantes são tão dependentes de um amado, eles sofrem uma terrível "ansiedade de separação" quando não estão em contacto. Um poema japonês, escrito no século X, padece deste desespero. "A manhãzinha cintila/ no brilho difuso/ da primeira luz. Sufocado de tristeza,/ Eu te ajudo com tuas roupas." Os amantes são marionetes que balançam das cordas do coração do outro.
Empatia: Os amantes sentem uma enorme empatia pelo amado.  O poeta E. E. Cummings escreveu encantadoramente sobre isso, dizendo: "ela ria sua alegria ela chorava sua tristeza". Muitos amantes chegam a se dispor a se sacrificarem por seu amado. Talvez o sacrifício de Adão por Eva seja a oferta mais dramática de toda a literatura universal. Como Milton a descreveu, depois de descobrir que Eva havia comido da maçã proibida, Adão decide comer ele mesmo da maçã — o que ele sabe que levará à expulsão deles do Jardim do Éden e à morte. Adão diz: "pois contigo/ por certo minha resolução é morrer".
 A adversidade aumenta a paixão: A adversidade com frequência alimenta a chama. Chamo este curioso fenómeno de "frustração-atração", mas é mais conhecido como "efeito Romeu e Julieta".  Até as discussões ou rompimentos temporários podem ser estimulantes.Um dos exemplos mais divertidos da literatura de como a adversidade aumenta o romance é a peça de um ato de Tchekov, O urso.40 Neste drama, um proprietário de terras mal-humorado, Grigori Stepanovitch Smirnov, aparece na casa de uma jovem viúva para pegar um dinheiro que o marido morto devia a ele. A mulher se recusa a pagar um cópeque que seja. Ela está de luto, explica, e grita bruscamente para ele: "Não estou com espírito para me preocupar com questões monetárias". Isto lança Smirnov num discurso contra todas as mulheres — chamando-as de hipócritas, falsas, cruéis e ilógicas. "Brrrr!", ele diz com veemência, "Tremo de fúria". A raiva dele incita a dela e eles começam a trocar insultos aos gritos. Logo ele apela para um duelo. Aflita para fazer um buraco na cabeça dele, a viúva pega as pistolas do marido morto e eles tomam posições.
Esta estranha relação entre a adversidade e o ardor romântico é vital em todos os amantes das grandes lendas do mundo. Se incitados por dificuldades de um ou outro tipo, eles só se amam ainda mais. Dickens disse sobre isso: "O amor com frequência cresce de forma mais abundante na separação e sob as circunstâncias mais difíceis". É bem verdade.
Esperança: "Digamos que eu pudesse viver em esperança", argumenta o rei Pirro com Andrômaca no drama de amor e morte de Racine. Por que os amantes devem continuar a ter esperança, mesmo quando os dados lançados pela vida saem incansavelmente contra eles? A maioria ainda espera que o relacionamento renasça — até anos depois de ter terminado amargamente. A esperança é outra característica predominante do amor romântico. Uma ligação sexual: "Eu preferia morrer cem vezes a ficar sem o teu doce amor. Eu te amo. Eu te amo desesperadamente. Eu te amo como amo minha própria alma." Assim declarou Psiquê ao marido, Eros, em O asno de ouro, romance do século II de Apuleio. "Ardendo de desejo", continua a história, "ela se inclinou e o beijou impulsivamente, impetuosamente, com um beijo depois de outro depois de outro beijo, temerosa de que ele despertasse antes que ela tivesse terminado."
A poesia de todo o mundo atesta o intenso anseio do amante por união sexual com o amado, outra característica básica do amor romântico. Freud, assim como muitos eruditos e leigos, sustentava que o desejo sexual é um componente central do amor romântico.48 Não era uma ideia nova. Quem estudou o Kama Sutra, o manual do amor da Índia do século V, sabe que a palavra "love", "amor", vem do sânscrito "Lubh", que significa "desejar".
Exclusividade sexual: Os amantes também querem exclusividade sexual. Muitas das histórias de amor do mundo refletem esta possessividade sexual, bem como o desejo do amante de manter sua fidelidade sexual. Por exemplo, enquanto separado de Isolda, a Justa, Tristão casou-se com outra mulher com o mesmo nome, Isolda das Brancas Mãos — em grande parte porque esta mulher lhe trazia muito do apelo da amada. Mas Tristão não consegue consumar o casamento. Quando, na lenda árabe, Laila fica noiva de alguém que não era seu amado Majnun, ela também evita o leito nupcial.
Ciúme: Em seu livro sobre as regras do amor cortês, Capelão escreveu: "Quem não sente ciúme não é capaz de amar". Ele chamava o ciúme de "ama-de-leite do amor" porque acreditava que ele nutria a chama romântica. O sagaz clérigo, como sempre, estava certo. Em toda sociedade em que os antropólogos estudaram a paixão romântica, os dois sexos eram ciumentos, muito ciumentos.50 Como alertou o I Ching, o livro chinês da sabedoria escrito mais de três mil anos atrás, "Um vínculo estreito somente é possível entre duas pessoas; um grupo de três engendra ciúme".As fases do amor
1. Desejo É o que nos leva a sair à procura de qualquer coisa.
2. Atração É quando nos apaixonamos
3. Vinculação É a fase do amor sóbrio, que ultrapassa a fase da atração / paixão e fornece os laços para que os parceiros permaneçam juntos.


Referencia:
  • LUWISCH, Marini M. - <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=370852959646831&set=a.264397383625723.58858.264385496960245&type=1&theater> acessado em 01 de agosto de 2012.
  • FISHER ,Helen.  Porque Amamos - A Natureza Química do Amor Romantico; Relógio d'Água; 2008.
 

Um comentário:

  1. Adorei, parabéns pelo texto. Leio muito a respeito desse assunto pois gosto e acabo por fazer meus trabalhos na faculdade relacionado a androginia e este é um dos melhores textos que já li sobre o assunto e sobre este mito. Muito bom mesmo!! Adorei seu blog. =D

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