terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Destruir para construir: arquétipo Shiva e Ganesha


Ganesha pertence à família dos deuses mais populares do Hinduísmo. Ele é o primogênito de Shiva e Parvati. Shiva é a terceira pessoa da trindade hindu. É o Deus da renovação, destrói para construir algo novo (transformação). Ele é o criador da Yoga. Parvati é a filha dos Himalayas. Deusa da beleza, mãe bondosa e mulher devotada. Shiva tem alma aventureira e adora viajar montado em sua vaca branca Nandi. Os lugares que ele mais gosta são montanhas inacessíveis e perigosas. Adora também os crematórios, mas sua paixão é a meditação e a Yoga. Quando pratica a Yoga, nem mesmo um terremoto o perturba.
Por algum tempo depois de seu casamento com a bela Parvati, vivendo em um bangalô no Himalaya, longe da civilização, Shiva começava a sentir falta de suas viagens; foi quando Parvati, já desconfiada, pergunta-lhe:
- Shiva, por que não viaja por uns tempos? Não sente saudades dos seus companheiros?
- É que quando estou perto de você, não sinto falta de nada. E, na verdade, todos os meus companheiros estão em torno da casa, eles nunca se afastam de mim. Eu não quero assustá-la, mas todos os fantasmas, demônios e gnomos, apesar de estarem invisíveis e quietos, estão presentes. Espero apenas que não me faça o pedido para mandá-los embora, pois são como crianças e eles sabem o quanto te amo.
- Claro que não Shiva, podem ficar. Mas e a sua meditação? Ela era sua maior ocupação.
Shiva, no fundo, sabia que ela estava certa e que tinha muita saudade das montanhas, onde sentava para meditar. E sabia que fora através da meditação que conseguiu se transformar em um Deus tão poderoso. Shiva então, depois de uma longa conversa, decidiu sair para meditar. Feliz, Shiva coloca sua pele de tigre na cintura, enrola suas cobras favoritas no pescoço, apanha seu tridente e sai montado em sua vaca, Nandi, seguido de seus estranhos companheiros. Mas não podemos nos esquecer que quando Shiva medita, é impossível despertá-lo. E muito tempo se passou.
Quando finalmente Shiva se levantou da posição de lótus, lembrou-se de sua Parvati e correu de volta para ela. Nesse ínterim, Parvati transformara aquela simples choupana num lugar muito confortável e bonito. E nem ficou sozinha por muito tempo. Shiva não sabia, mas a tinha deixado grávida. E no tempo certo, deu à luz um lindo bebê, Ganapati.
Os anos passaram-se, o deus bebê cresceu e se transformou num rapazinho muito inteligente. Numa manhã de primavera, Parvati estava tomando banho enquanto Ganapati mantinha-se perto do portão, aguardando sua mãe. Neste instante um homem alto, com cabelos longos, um monte de cobras enroladas em seu pescoço e vestido com uma pele de tigre e uma aparência selvagem, aproxima-se do portão.
Shiva parou e olhou com estranheza para o bangalô. "Será que esta casa linda era mesmo a sua? E quem seria aquele rapaz parado no portão?"
- Deixe-me entrar! Disse Shiva impaciente e descortês.
- Não.  Respondeu Ganapati
- Você não pode entrar!
Empurrando o rapaz para o lado, Shiva atravessou o jardim e foi direto para casa. Ganapati sabia que sua mãe estava tomando banho e aquele homem rude não poderia entrar em sua casa. Ele correu e se postou a porta de espada em punho. Pobre menino! Que hora mais infeliz para provocar a ira do pai! E Shiva, nesse momento, perdeu completamente as estribeiras e seu terceiro olho, o do poder, apareceu no meio de sua testa, brilhando como fogo e em segundos o corpo do rapaz jazia sem cabeça no chão.
Ouvindo vozes e gritos, Parvati apressou-se e saiu correndo do banho. Ao abrir a porta viu horrorizada o corpo do filho estendido sem cabeça; e em sua frente o marido que há tanto se fazia ausente. Shiva corre para abraçá-la; e ela desviando-se do abraço chora amargamente.
- Mas o que você fez? O que você fez? Ela repetia, torcendo as mãos em desespero.  Este era o seu filho, e você o destruiu!
Só então Shiva caiu em si e se entristeceu de verdade. Logo tentou confortá-la:
- Nosso filho é um Deus; portanto, não pode estar morto. Encontra-se apenas desmaiado.
Mas Parvati não queria ouvir nada daquilo e lhe disse:
- Você o destruiu! De que serve um Deus sem cabeça?
Shiva tentou da melhor forma que podia dizer-lhe que não tinha feito nenhum mal ao rapaz. Parvati insistia com Shiva para que ele colocasse a cabeça de seu filho no lugar, mas Shiva dizia que não podia desfazer o que já estava feito. E Parvati chorava muito. Então Shiva teve uma ideia: capturar o primeiro animal que encontrasse e tirar sua cabeça para colocá-la sobre os ombros de seu filho. Foi quando encontrou um elefantinho bebê, tirou sua cabeça e a colocou em Ganapati e naquele momento, o nome do rapaz passou a ser Ganesha. Parvati tentou de diversas formas mudar o acontecido e pedia para outros Deuses que dessem ao seu filho uma cabeça decente.
Então os deuses pediram à linda Parvati que secasse suas lágrimas e tudo se resolveria. Brahma, que adora as crianças, Vishnu e Indra pediram à Parvati que perdoasse Shiva, pois ele não sabia o que estava fazendo e deixaram bem claro que Ganesha não perderia nada com isso. Apesar de não ser mais tão atraente, todos o reconheceriam pela sua bondade e o amariam pelo que ele era. Brahma prossegue:
- Ganesha será o Deus da sabedoria, será o Escrivão dos céus e o Deus da literatura. Vishnu acrescenta:
- Será o Deus que removerá todos os obstáculos e será para Ganesha que todos rezarão em primeiro lugar, antes de invocar qualquer outro Deus. Será o Deus que sorrirá com boa fortuna para todas as empresas novas.
E é assim que tudo aconteceu.

Arquétipo Ganesha



Como todas as lendas encerram dentro de si um significado maior, vamos descobrir a simbologia da história de Ganesha. Primeiro, a história mostra que Ganesha tem um corpo físico gerado por Parvati, símbolo da matéria perecível, ou seja, que é como humano. Mostra também que ele "não conhece" o pai (Shiva, a Realidade Suprema). Quando Parvati solicita sua proteção ele a obedece incondicionalmente (cuida da matéria, é apegado a ela). Quando seu pai "chega", luta com ele (não quer perder a individualidade), não o reconhece, mas luta com bravura, quer cumprir o seu dever. O pai admira sua coragem, mas, não podendo deixá-lo vencer, corta sua cabeça (o ego, a mente, a arrogância) e ele "morre". Parvati, zangada com a "morte" do filho, mostra a matéria não querendo perder seu "nome e forma". Shiva coloca uma "nova cabeça" no filho, que renasce pelas mãos de Shiva, nascendo do Supremo. Parvati, ficando contente com as promessas de Shiva de que seu filho será reverenciado no início dos rituais e cerimônias e antes de qualquer empreendimento, mostra que a "perda" da individualidade é o ganho do Absoluto, da Plenitude. O sábio vence todos os obstáculos e depois "morre", "perde a cabeça", para ganhar uma "nova" dada por Shiva, o Absoluto.


Uma música linda para vocês

Referencias
omganesha.kit.net
creatiblogs.pt

9 comentários:

  1. Fantástica a história...apesar de quê,sem sombra de dúvida,as lendas gregas são melhores...sempre achei muito tristes as histórias que vem do Leste...Plutarco,historiador romano,quando escreve sobre Alexandre o Grande,fala sobre as condições na Índia,na Pérsia e na Báctria(atual Afeganistão). Eu então,que sou bem pouco místico,sou pouco dado a isso...mas muito bonito o texto...
    Repare que cada lenda, de cada civilização da terra,traz sempre a fauna, a flora e as características físicas do povo que a possui...haja vista o nosso elefantinho...
    Bjosss de fadas...
    PS:. Pode colocar o link sim, meu anjo...ajude a divulgar a cultura e a causa feminista nesse país,infelizmente ainda tão arcaico...

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  2. É verdade. Mas um ponto têm em comum as histórias: o homem feito do barro. Na greco-romana, na hindu e na judaico cristã. É realmente fantástico o inconsciente coletivo.

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  3. A mitologia hindu não é chegada na proteção dos animais. Matar tigre e elefante? Tsc tsc tsc

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    1. Poxa Adônis o elefantinho estava morto e Shiva pediu a autorização da mãe.... esqueci de falar

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    2. Vc só responde para o seu amiguinho... humpft

      E não cabe à mãe autorizar, mas sim uma autoridade competente, como um juiz de direito ou um agente sanitário ou um médico do governo =P É arriscado fazer um transplante de cabeça. A cabeça de elefante, à princípio, é incompatível com o corpo humano e mesmo que haja compatibilidade, é uma cabeça em putrefação, um risco à saúde pública. E mesmo que a mãe fosse essa autoridade competente para viabilizar o transplante, ela é parcial, poderia furar a fila de transplantes de cabeça, por isso seria impedida. No exercício do poder estatal não há espaço para sentimentos familiares, o que se visa é a proteção do bem comum, no caso a higidez pública e eventualmente a ordem da fila para transplantes de cabeça.

      Por fim, você não falou do Tigre cujo couro foi roubado - latrocínio!

      Beijo! humpft

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    3. hahaha Adonis que saudades de vc!!!!
      Ahhh então fala isso também para Hércules que vestia o couro do pobre leão!!!!

      bjs

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    4. Saudades? Sei, vc diz isso para todos. =p

      E Hércules é fraco e chato, mas de qualquer forma, a conduta dele estava justificada, pois aquele Leão estava ceifando vidas e não tinha como ser contido, daí é só fazer uma sopesamento de valores: a vida de centenas de pessoas inocentes ou a de um Leão, filho de Tifão e Equidna, concebido para matar, fugindo da natureza dos outros leãos que só matavam para sobreviver?

      Beijo =P

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  4. km eu choie lendo depois fiquei rindo dos comentários hilários ...linda historia...sou apaixonada por Ganesha...

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