sábado, 29 de junho de 2013

Mulheres de cabelo Curto - Site Papo de homem


Por motivos óbvios adorei. Embora, na minha opinião, cada mulher tenha a sua fase de cabelo. 


Uma mulher de cabelo curto é o seguinte: ela tem uma informação para te dar; e ela não pergunta se você quer ser informado. Mulher de cabelo curto, simplesmente, informa. O resto que se dane. Mulher de cabelo curto diz o seguinte: eu tenho minha autoestima no lugar e não preciso de nada que venha de você.
A mulher de cabelo comprido precisa de algum artefato histórico para se manter próxima da sua feminilidade. Algo como um tipo de identidade socialmente especial. Parece um advogado que conheci no século passado. Quando era parado por uma blitz de trânsito o cara apresentava a carteirinha da OAB, no lugar da CNH. Mulher de cabelo curto não precisa de atestado protocolado em cartório para ser mulher. Ela não precisa daquela sensação pré-civilizatória de ser puxada pelos cabelos por um hominídeo com tacape na mão.
Toda velha sensata se torna uma mulher de cabelo curto. Toda velha biruta mantém as crinas compridas, enormes, atrasando o processo darwinista de evolução da espécie.
Quanto mais velho melhor. A comparação entre a idade das pessoas e dos vinhos é parcialmente verídica. Como qualquer coisa parcialmente verdadeira também é parcialmente falsa, sugiro que possamos aprimorar a endoxa. Mulheres são como os vinhos. As boas, quanto mais velhas, melhores. As ruins, com o tempo, viram vinagre. Idênticas aos vinhos. Mulher de cabelo curto é bebida fina. É pinot noir 2008. É a diferença entre uísque e scotch! É preciso ter qualidade de puro malte para o processo de maturação se adiantar ao envelhecimento pelo calendário gregoriano. Já viu mulher de cabelo curto preocupada com o calendário gregoriano? Convenções e engendramentos sociais? Bem capaz! A mulher de cabelo curto é um scotch 12 anos com maturação de 18.
Vinhos, scotchs e mulheres de cabelos curtos. Eis aquilo que separa os homens das codornas. A loira gelada, e geralmente cabeluda, é o melhor que um menino pode querer. Um dia, todo mundo se acostuma com o que pode vir a ter na vida. Meninos acham mulheres cabeludas o máximo. São codornas. Não foram apresentadas aos scoths e a uma mulher de cabelo curto. Mulher de cabelo curto não serve para publicitário fazer roteiro de propaganda de cerveja.
A mulher de cabelo curto entra em qualquer lugar como se ela fosse dona. Mulher de cabelo comprido precisa virar o pescoço para olhar com atenção. Mulher de cabelo curto só precisa mover os olhos. Mulher de cabelo comprido precisa ter atenção. Mulher de cabelo curto chama atenção por onde passa.
Não há nada para atrapalhar uma mulher de cabelo curto. Nem loiras geladas. Nem codornas mimadas.
A personalidade da mulher de cabelo curto é como um tipo especial de olho azul: ou nasce com, ou vive uma vida toda admirando no rosto dos outros. Mulher de cabelo curto não escolhe cortar o cabelo. Seria como colocar lentes de contato e pagar o preço do papel ridículo. A nós, homens, resta o esforço de procurar mulheres com personalidade.
E a sorte para encontrar uma mulher de cabelo curto.

Texto de Everton Maciel

domingo, 23 de junho de 2013

Parábola africana: O sapo e o escorpião

O Sapo e o Escorpião

Certa vez, um escorpião aproximou-se de um sapo que estava na beira de um rio.
O escorpião vinha fazer um pedido:
"Sapinho, você poderia me carregar até a outra margem deste rio tão largo?" 

O sapo respondeu: "Só se eu fosse tolo! Você vai me picar, eu vou ficar paralizado e vou afundar."
Disse o escorpião: "Isso é ridículo! Se eu o picasse, ambos afundaríamos."
Confiando na lógica do escorpião, o sapo concordou e levou o escorpião nas costas, enquanto nadava para atravessar o rio. 
No meio do rio, o escorpião cravou seu ferrão no sapo.
Atingido pelo veneno, e já começando a afundar, o sapo voltou-se para o escorpião e perguntou: "Por quê? Por quê?"
E o escorpião respondeu: "Por que sou um escorpião e essa é a minha natureza."



quarta-feira, 19 de junho de 2013

O personagem V de Vingança e seu lado arquétipo de Prometheus

"A VERDADE É FILHA DO TEMPO, NÃO DA AUTORIDADE" - GALILEU GALILEI





Frases do Filme V de Vingança



"Você usa tanto uma mascara que, acaba esquecendo de quem você é."
V de Vingança
"Não existe coincidência, apenas a ilusão de uma coincidência."
"Estamos presos ao modelo, somos parte dele."
"Um símbolo sozinho pode não representar nada, mas se todos se juntam, um símbolo pode significar muito, pode significar a mudança de um pais" 

"Estás temeroso de ser o mesmo em teu próprio ato e valor de que em teu desejo? Não terás o que mais estimas , o ornamento da vida , e viverás um covarde em tua própria estima, deixando "Eu não posso" ultrapassar "eu farei", como o pobre gato no adágio?"... És um homem". 

"Eis que me fiz de santo quando na verdade era o demônio" 

"Esconda-me e seja meu ajudante pois tal disfarce por acaso vai tomar a forma do meu propósito."

Não se deve contar com a minoria silenciosa, pois o silêncio é algo frágil. Um ruído alto... e está tudo acabado. O povo está amedrontado e desorganizado demais. Alguns tiveram a oportunidade de protestar, mas foram como vozes gritando no deserto. O Barulho é Relativo ao Silêncio que o Precede. Quanto Mais Absoluta a Quietude, Mas Devastadoras as Palmas."

"Espero que o mundo mude, e que a situação melhore, mas o que mais quero é que você entenda, quando digo que ainda que eu não te conheça, apesar de talvez jamais encontrar você, rir com você, chorar com você ou beijar você, eu te amo de todo coração, eu te amo."

terça-feira, 18 de junho de 2013

Sinfonia n.º 9 - Ode to Joy de Beethoven e Mitologia








A sinfonia n.º 9 tem um papel cultural de extrema relevância no mundo atual. Em especial, a música do último movimento, chamado informalmente de "Ode à Alegria". Foi apresentada pela primeira vez em 7 de maio de 1824, no Kärntnertortheater, em Viena, na Áustria. O regente foi Michael Umlauf, diretor musical do teatro, e Beethoven - dissuadido da regência pelo estágio avançado de sua surdez - teve direito a um lugar especial no palco, junto ao maestro.
 Foi a primeira vez que se tentava utilizar uma componente vocal numa sinfonia. Anton Schindler, célebre amigo de Beethoven, disse posteriormente: "quando ele começou a trabalhar no quarto movimento, a batalha recomeçou, mais intensa do que nunca. Sua meta era a de encontrar uma maneira apropriada de introduzir a ode de Schiller. Um dia ele [Beethoven] entrou na sala gritando: 'Consegui, consegui!' E então me mostrou um caderno com as palavras 'cantemos a ode do imortal Schiller'". No entanto, esta introdução acabou nunca chegando à obra final, e Beethoven ainda passou muito tempo reescrevendo aquela parte até que ela atingisse a forma conhecida atualmente.


Ode  to Joy e a Mitologia


1º Campos Elísios - Os gregos falavam que o deus Hades governava o mundo dos mortos Tártaro (Inferno, lugar cheio de sofrimentos) e também os Campos Elísios (uma espécie de Paraíso só acessível aos homens virtuoso e aos artistas e poetas). Autores, compositores e outros artistas com conhecimentos na área da filosofia usaram esse termo para se referir ao Paraíso.


Sempre que os autores mencionam a filha de Elísio, sugere-se mais a um sentimento de ventura, de contentamento, de prazer, etc. do que a uma personagem (tem outreas teorias). Este fator nos leva a concluir que em "Ode to Joy" (em português: "Ode à Alegria"), filha de Elísio quer dizer "Alegria", ou seja, Beethoven homenageia a filha de Elísio, a alegria, através de uma ode.

2º Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss, na mitologia, «para os gregos e romanos, mansão ocupada pelos heróis e pelos justos após a morte». Por extensão de sentido, é «relativo a ou local de prazeres, de felicidades». Por sua vez, o Dicionário da Porto Editora diz que, como substantivo, é «bem-aventurança» e, como adje(c)tivo, quer dizer «relativo ao Elísio; delicioso; feliz». Elísio vem «do grego Elýsion pedion, "os Campos Elísios", pelo latim Elysiu-».

Letra da 9.ª Sinfonia de Beethoven em português
Baixo
Ó, amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre!
Baixo Quarteto e coro
Alegria, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu.
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce vôo se detém.
Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,
Uma única em todo o mundo.
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!
Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!
Tenor e coro
Alegremente, como seus sóis voem
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Alegremente como o herói diante da vitória.
Coro
Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.
Milhões, vocês estão ajoelhados diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do Céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora!


Letra da 9ª Sinfonia de Beethoven em alemão
Baixo
O Freunde, nicht diese Töne!
Sondern laßt uns angenehmere
anstimmen und freudenvollere.
Freude! Freude!
Baixo Quarteto e coro
Freude, schöner Götterfunken
Tochter aus Elysium,
Wir betreten feuertrunken,
Himmlische, dein Heiligtum!
Deine Zauber binden wieder
Was die Mode streng geteilt;
Alle Menschen werden Brüder,
Wo dein sanfter Flügel weilt.
Wem der große Wurf gelungen,
Eines Freundes Freund zu sein;
Wer ein holdes Weib errungen,
Mische seinen Jubel ein!
Ja, wer auch nur eine Seele
Sein nennt auf dem Erdenrund!
Und wer's nie gekonnt, der stehle
Weinend sich aus diesem Bund!
Freude trinken alle Wesen
An den Brüsten der Natur;
Alle Guten, alle Bösen
Folgen ihrer Rosenspur.
Küsse gab sie uns und Reben,
Einen Freund, geprüft im Tod;
Wollust ward dem Wurm gegeben,
Und der Cherub steht vor Gott.
Tenor e coro
Froh, wie seine Sonnen fliegen
Durch des Himmels prächt'gen Plan,
Laufet, Brüder, eure Bahn,
Freudig, wie ein Held zum Siegen.
Coro
Seid umschlungen, Millionen!
Diesen Kuß der ganzen Welt!
Brüder, über'm Sternenzelt
Muß ein lieber Vater wohnen.
Ihr stürzt nieder, Millionen?
Ahnest du den Schöpfer, Welt?
Such' ihn über'm Sternenzelt!
Über Sternen muß er wohnen.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O voo de Ícaro


Ícaro era filho de Dédalo, o construtor do labirinto que o rei Minos aprisionava o Minotauro, um ser com corpo de homem e cabeça de touro. A lenda grega conta que Dédalo ensinou Teseu, que seria devorado juntamente com outros jovens pelo monstro, como sair do labirinto. Dédalo sugeriu que ele deveria utilizar um novelo que deveria ser desenrolado a medida em que fosse penetrando no labirinto. Dessa forma, após ter matado o monstro ele conseguiu fugir do labirinto. O rei Minos ficou furioso e prendeu Dédalo e o seu filho Ícaro no labirinto. Como o rei tinha deixado guardas vigiando as saídas, Dédalo construiu asas com penas dos pássaros colando-as com cera. Antes de levantar vôo, o pai recomendou a Ícaro que quando ambos estivessem voando não deveriam voar nem muito alto (perto do Sol, cujo calor derreteria a cera) e nem muito baixo (perto do mar, pois a umidade tornaria as asas pesadas). Entretanto, a sensação de voar foi tão estonteante para Ícaro que ele esqueceu a recomendação e elevou-se tanto nos ares a ponto da previsão de Dédalo ocorrer. A cera derreteu e Ícaro perdeu as asas, precipitando-se no mar e morrendo afogado.
Seguem 


Por Iron Maiden



Por Biafra



Do Paralamas:

"O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu
E lendo teus bilhetes, eu lembro do que fiz
Querendo ver o mais distante e sem saber voar
Desprezando as asas que você me deu"

sexta-feira, 14 de junho de 2013










Como posso querer que meus amigos entendam as coisas loucas que passam pela minha cabeça, se eu mesmo, não entendo? 

Salvador Dali

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O que diz Eros sobre o amor?

Por Érika Filgueira

Lutamos pra entender o amor desde o dia em que nascemos, em dado momento chegamos à um ponto em que a pretensão grita dominar o seu significado, esse é o pico.

Mas tudo muda. Não há como dominar o sentido do amor, da mesmo forma que não há como dominar filhos, mães, amores...

Tirado de lado toda essa sujeira que acreditamos ser o amor, chega a solidão...pois tanto tempo e energia gastamos sufocando pessoas e sentimentos em posse: que eles fogem, o amor é um bicho que não sobrevive a cativeiro.

Quando tudo vaza entre seus dedos, a primeira afirmação é:EU NÃO MEREÇO, AMEI DEMAIS.

Alguém nos pediu pra amar? Isso foi combinado como sendo uma negociação de compra e venda?

Ninguém nos pede sacrifício, nos sacrificamos por que somos prepotentes e queremos tomar o lugar de alguns mártires.

Então, no momento da tua mais profunda dor e solidão, um cupido de nome Eros sussurra ao seu ouvido:

- Eu disse a Psique (e a todos nós), não olhe nos meus olhos... Você está pronta pra me amar mesmo sem ver meu rosto, mesmo eu partindo todas as noites?

Ele sim, é onisciente, onipresente e onipotente, longe disso, nada é amor, é preguiça de ser inteiro.



terça-feira, 4 de junho de 2013

"Bora" falar da projeção?


Segundo Freud, a projeção é um mecanismo de defesa psicológico em que determinada pessoa "projetaseus próprios pensamentos, motivações, desejos e sentimentos indesejáveis numa ou mais pessoas. Para ser mais ousada, chego a pensar que a projeção é aquilo que nos faz ficar em estado de "delira", imaginando que aquele ser pelo qual você tem sonhado acordado é algo que você gostaria na sua vida, dirimindo as muitas deficiências (algumas delas bem evidentes) para que possa prosseguir na história de uma pessoa só.

Jung define projeção como “um processo inconsciente e automático, pelo qual um conteúdo inconsciente para o sujeito é transferido para um objeto, fazendo com que este conteúdo pareça pertencer ao objeto”.
A projeção cessa no momento em que se torna consciente, isto é, ao ser constatado que o conteúdo pertence ao sujeito. Todos nós temos dentro de nós aspectos masculinos e femininos que retratam nosso ideal de homem ou de mulher, Jung denominou esses aspectos da personalidade de animus e anima. Quando projetamos esses aspectos no rosto de outra pessoa achamos que estamos amando, porém na grande maioria das vezes só estamos projetando um ideal.
A seguir, um poema de Pessoa que exemplifica a questão da projeção como fixação e o momento em que ela cessa, em que ele constata que o objeto da sua projeção era mais invenção pertencente a si mesmo. 
*dica: leia o poema com a música abaixo, é uma experiência quase que sem igual.

Amei-te e por te amar

Fernando Pessoa
Amei-te e por te amar
Só a ti eu não via...
Eras o céu e o mar,
Eras a noite e o dia...
Só quando te perdi
É que eu te conheci...
Quando te tinha diante
Do meu olhar submerso
Não eras minha amante...
Eras o Universo...
Agora que te não tenho,
És só do teu tamanho.
Estavas-me longe na alma,
Por isso eu não te via...
Presença em mim tão calma,
Que eu a não sentia.
Só quando meu ser te perdeu
Vi que não eras eu.
Não sei o que eras. Creio
Que o meu modo de olhar,
Meu sentir meu anseio
Meu jeito de pensar...
Eras minha alma, fora
Do Lugar e da Hora...
Hoje eu busco-te e choro
Por te poder achar
Não sequer te memoro
Como te tive a amar...
Nem foste um sonho meu...
Porque te choro eu?
Não sei... Perdi-te, e és hoje
Real no [...] real...
Como a hora que foge,
Foges e tudo é igual
A si-próprio e é tão triste
O que vejo que existe.
Em que és [...J fictício,
Em que tempo parado
Foste o (...) cilício
Que quando em fé fechado
Não sentia e hoje sinto
Que acordo e não me minto...
[...] tuas mãos, contudo,
Sinto nas minhas mãos,
Nosso olhar fixo e mudo
Quantos momentos vãos
Pra além de nós viveu
Nem nosso, teu ou meu...
Quantas vezes sentimos
Alma nosso contacto
Quantas vezes seguimos
Pelo caminho abstracto
Que vai entre alma e alma…
Horas de inquieta calma!
E hoje pergunto em mim
Quem foi que amei, beijei
Com quem perdi o fim
Aos sonhos que sonhei…
Procuro-te e nem vejo
O meu próprio desejo…
Que foi real em nós?
Que houve em nós de sonho?
De que Nós fomos de que voz
O duplo eco risonho
Que unidade tivemos?
O que foi que perdemos?
Nós não sonhámos. Eras
Real e eu era real.
Tuas mãos — tão sinceras…
Meu gesto — tão leal...
Tu e eu lado a lado...
Isto... e isto acabado...
Como houve em nós amor
E deixou de o haver?
Sei que hoje é vaga dor
O que era então prazer...
Mas não sei que passou
Por nós e acordou...
Amámo-nos deveras?
Amamo-nos ainda?
Se penso vejo que eras
A mesma que és... E finda
Tudo o que foi o amor;
Assim quase sem dor.
Sem dor... Um pasmo vago
De ter havido amar...
Quase que me embriago
De mal poder pensar...
O que mudou e onde?
O que é que em nós se esconde?
Talvez sintas como eu
E não saibas sentil-o...
Ser é ser nosso véu
Amar é encobril-o,
Hoje que te deixei
É que sei que te amei...
Somos a nossa bruma…
É pra dentro que vemos...
Caem-nos uma a uma
As compreensões que temos
E ficamos no frio
Do Universo vazio...
Que importa? Se o que foi
Entre nós foi amor,
Se por te amar me dói
Já não te amar, e a dor
Tem um íntimo sentido,
Nada será perdido...
E além de nós, no Agora
Que não nos tem por véus
Viveremos a Hora
Virados para Deus
E n'um (...) mudo
Compreenderemos tudo.
2-12-1913
Pessoa Inédito. Fernando Pessoa. (Orientação, coordenação e prefácio de Teresa Rita Lopes). Lisboa: Livros Horizonte, 1993.
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