quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Caetano Veloso - Tropicália

Música de Caetano Veloso, "Tropicália" é um dos ícones do movimento tropicalista e faz parte do disco solo de estréia de Caetano, lançado pela gravadora Philips em 1968.

Tropicália

Caetano Veloso

Sobre a cabeça os aviões Sob os meus pés os caminhões Aponta contra os chapadões Meu nariz
Eu organizo o movimento Eu oriento o carnaval Eu inauguro o monumento No planalto central do país
Viva a Bossa, sa, sa Viva a Palhoça, ça, ça, ça, ça Viva a Bossa, sa, sa Viva a Palhoça, ça, ça, ça, ça
O monumento É de papel crepom e prata Os olhos verdes da mulata A cabeleira esconde Atrás da verde mata O luar do sertão
O monumento não tem porta A entrada é uma rua antiga Estreita e torta E no joelho uma criança Sorridente, feia e morta Estende a mão
Viva a mata, ta, ta Viva a mulata, ta, ta, ta, ta Viva a mata, ta, ta Viva a mulata, ta, ta, ta, ta
No pátio interno há uma piscina Com água azul de Amaralina Coqueiro, brisa e fala nordestina E faróis
Na mão direita tem uma roseira Autenticando eterna primavera E no jardim os urubus passeiam A tarde inteira entre os girassóis
Viva Maria, ia, ia Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia Viva Maria, ia, ia Viva a Bahia, ia, ia, ia, ia
No pulso esquerdo o bang-bang Em suas veias corre Muito pouco sangue Mas seu coração Balança um samba de tamborim
Emite acordes dissonantes Pelos cinco mil alto-falantes Senhoras e senhores Ele põe os olhos grandes Sobre mim
Viva Iracema, ma, ma Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma Viva Iracema, ma, ma Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma
Domingo é o fino-da-bossa Segunda-feira está na fossa Terça-feira vai à roça Porém...
O monumento é bem moderno Não disse nada do modelo Do meu terno Que tudo mais vá pro inferno Meu bem
Que tudo mais vá pro inferno Meu bem
Viva a banda, da, da Carmem Miranda, da, da, da, da Viva a banda, da, da Carmem Miranda, da, da, da, da
Sempre que ouço o trecho : "Eu inauguro o monumento no planalto central do país" da música Tropicália lembrei-me da viagem política que fiz em grêmios estudantis nos antigos primeiro e segundo graus e, mais tarde em centro acadêmicos no ensino superior.  Caetano desenhou um quadro onde escondeu sua ideologia e seu pensamento por meio de Tropicália. Não se pode analisar um texto sem levar em consideração o contexto no qual ele “nasceu”.  Quando se diz e "viva a mata ta ta" se ouve a é uma figura de linguagem (prosopopeia) de uma arama melhor visualizada adiante: "No pulso esquerdo o bang-bang Em suas veias corre Muito pouco sangue Mas seu coração Balança um samba de tamborim"  vista. Essa interpretação é aceitável, porém está longe de abarcar a profundidade dos versos, cheios metáforas. Podemos considerar a música toda como uma alegoria da mudança, um apelo ao novo (modo de governar), em oposição ao que estava estabelecido na época em que Caetano fez a música (A ditadura).  O monumento de que Caetano fala está em Brasília, é o Palácio do Planalto. Claro que a interpretação aqui exposta é válida, mas é muito aquém do propósito do discurso do eu-lírico (eu-autor) apresentado na letra em questão. No meu caso, meu eu-lírico não pode ser tão poético, nem ganhou brilho definido: a história começou com um convite para entrar em um ônibus (quando eu tinha 12 anos de idade). Este nos levou a mais dezenas de escolas, com mais dezenas de ônibus indo parar no planalto central. Na saída do ônibus, a contragosto, veio uma feliz senhora  com latas de tintas pintar minha cara e finalmente me explicar o que era aquela bagunça: essa é a ala do movimento cara pintada para alunos de primeiro grau.  "Mas todos os ônibus são do governo, como o movimento que é do governo, pode ser contra o próprio governante?" A mulher serena respondeu:  "Aqui escrevemos a história. E você menina agora é uma cara pintada, está mudando a cara do país e entrando para os anais da história!"
E será que mudou?

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