As imagens e mitos
gregos mais recentes representam Ártemis como uma virgem assexuada, regente da
lua crescente, perambulando pelas florestas com seu grupo de ninfas, evitando o
contato com os homens e matando aqueles que espiavam sua intimidade. No
entanto, esta é apenas uma das inúmeras identidades assumidas por esta
misteriosa Deusa, uma síntese das energias multifacetadas da essência feminina.
A natureza de
Ártemis é complexa e contraditória: ela é virgem, mas cuida e auxilia
parturientes e crianças; é caçadora e ao mesmo tempo protetora dos animais, é
guerreira e rainha das Amazonas, mas também é A Mãe dos Mil Seios, senhora da
fertilidade. Simboliza a dualidade do bem e do mal, ora aparecendo como uma
linda donzela, ora deusa vingativa, agindo como parteira amorosa ou feroz
guerreira, protetora das crianças sem nunca ter sido mãe, cuidando da vida ou
promovendo a morte.
A sua origem é
remota, sendo a herdeira de Potnia Theron, a Senhora dos Animais da civilização
neolítica, representada cercada de animais e alada, com desenhos de peixes e
espirais na sua túnica, vistos como símbolos do fluxo de energia criativa.
Originariamente, Ártemis era a Mãe da Floresta, invocada por caçadores e
viajantes que eram por Ela protegidos, desde que eles não matassem fêmeas
prenhas e filhotes, não caçassem por esporte ou distração, nem desperdiçassem
recursos e riquezas naturais.
Ártemis foi
reverenciada ao longo do tempo e do espaço, com diferentes atributos, nomes e
rituais, mas permanecendo sempre Megale Ártemis, a Grande Deusa. Das montanhas
de Anatólia, o habitat das tribos de Amazonas, seu culto espalhou-se para
África, Sicilia, Europa, as ilhas gregas como Creta e Delos, até Trácia na
Grécia, onde floresceu em Brauron com as iniciações e danças das meninas–ursas.
Sua estátua como a Deusa dos Mil Seios, no templo de Éfeso (construído em 320 a .C.e destruído mil anos
depois pelos godos), era uma das sete maravilhas do mundo antigo e simbolizava
o instinto primal de gerar, viver e morrer, o poder verdadeiro da Grande Mãe,
tanto a Nutridora quanto a Ceifadora da vida, chamada Proto Thronia, a primeira
no trono.
No mito grego
Ártemis aparece como filha de Zeus e Leto (que originariamente era uma deusa
pré-grega chamada apenas “Nossa Senhora”), que tinha sido amaldiçoada pela Hera
para não poder parir em nenhum lugar onde os raios solares incidissem. Leto foi
ajudada pela sua irmã Asteria, que se transformou em uma ilha mágica, Ortigia,
que flutuava sob a superfície do oceano e assim sendo, livre da maldição.
Ártemis nasceu com facilidade, mas como seu irmão gêmeo custava a nascer e Leto
sofria dores terríveis, Ártemis a ajudou trazer Apollo ao mundo. Foi assim que
se originaram os nomes de Ártemis como Eileithya e Partenos, a Parteira amorosa
e o título de “Aquela que trazia a luz”. A ilha mágica - renomeada Delos
(“brilhante”) - foi consagrada a Ártemis e Apollo, sendo que lá nenhum ser
humano podia nascer ou morrer.
Quando Ártemis completou três anos, foi apresentada ao seu pai e Zeus encantado com sua precocidade lhe ofereceu quaisquer presentes que ela quisesse. Ártemis pediu para jamais precisar casar (e assim permaneceu, sendo imune aos encantamentos de Afrodite e Eros), ter mais nomes do que seu irmão, mas ter arco e flechas como ele, poder usar sempre uma túnica curta para correr à vontade nos bosques, ter como companhia sessenta ninfas do oceano e trinta dos rios que cuidassem dos seus animais, reger a Lua e a luz (na sua qualidade de Phoebe, “a luminosa”), ter o domínio das montanhas e florestas e o direito de fazer sempre suas próprias escolhas.
Quando Ártemis completou três anos, foi apresentada ao seu pai e Zeus encantado com sua precocidade lhe ofereceu quaisquer presentes que ela quisesse. Ártemis pediu para jamais precisar casar (e assim permaneceu, sendo imune aos encantamentos de Afrodite e Eros), ter mais nomes do que seu irmão, mas ter arco e flechas como ele, poder usar sempre uma túnica curta para correr à vontade nos bosques, ter como companhia sessenta ninfas do oceano e trinta dos rios que cuidassem dos seus animais, reger a Lua e a luz (na sua qualidade de Phoebe, “a luminosa”), ter o domínio das montanhas e florestas e o direito de fazer sempre suas próprias escolhas.
Assim como Athena
e Héstia, Ártemis era virgem, ou seja, tinha autonomia e independência,
liberdade para agir seguindo seu instinto, jamais se submetendo ao domínio ou
controle masculino. Ela prezava sua liberdade e defendia o Seu espaço,
transformando os intrusos em animais, bem como protegia as crianças e animais
recém nascidos com a ferocidade da ursa, que era o Seu animal totêmico (além do
cão, veado, corça, lebre, javali, lobo, cavalo) e que a personificava como a
Mãe Ursa.
Seus inúmeros
títulos se referiam às Suas funções e domínios múltiplos, como regente das
florestas, dos animais, caça, lagos, pântanos, rios, mares, campos, clareiras,
madrugada, Lua, luz, partos, cura, proteção. Ela regia as fases da vida, as
transições e dimensões das experiências femininas, (infância, adolescência,
gravidez, amamentação, menopausa, solidão, morte), protegendo-as das ações ou
interferências masculinas.
Eram três as
grandes áreas regidas: a sobrevivência das espécies (fertilidade, reprodução e
nascimentos), o controle do tempo, das águas e das marés e o ciclo de vida,
destruição e morte (como caçadora ela mantinha o fluxo e o intercâmbio natural
das energias), regendo também a lua negra e a noite, junto com Hécate. As
matas, os bosques e campos pertenciam à Ártemis e às suas ninfas que moravam
nas árvores, plantas, nascentes e rios, cuidando e protegendo tudo com amor e
dedicação. A paixão e a virgindade são aspectos entrelaçados de forma estranha
e profunda, assim como também é o habitat selvagem e longínquo, que resiste e
reage à qualquer forma de violação.
De todas as deusas
gregas, Ártemis é a mais próxima das mulheres, por isso é considerada sua
Protetora por excelência, como comprovam as dezenas de títulos e atributos a
Ela conferidos, distribuídos em várias áreas por eles regidos.
Aspectos da
natureza: Agrea, da terra
não cultivada, Aetole, dos ventos, Agrotera, da caça, Akrea, das colinas,
Amarysia, que traz a chuva, Aphetura e Toxotis, as Arqueiras, Arkadia, das
montanhas, Artio e Eleuthera, as Mães Ursas, Astrateia, das estrelas, Daphne,
do louro, Diktina, da caça, Euploea, que traz bom tempo, Heleia, dos pântanos,
Hemera, do anoitecer, Kypharissa, rainha dos ciprestes, Lakone, do lago,
Lemnos, da terra, Kariathis, da nogueira, Kedrinos, do cedro, Lykaena, das
lobas, Melissa, das abelhas, Skulakitis, protetora dos cães, Pythia, a
serpente.
Protetoras dos
partos: Amnius e
Delphinia, guardiãs do ventre antes do nascimento, Argennis e Eileithya,
auxiliam os partos difíceis, Eulochia, Eunumos, Genetaira e Orsilochia ajudam
no parto, Genetyllis, protetora dos nascimentos, Kurotrophos e Paedotrophus,
enfermeiras e “babás”, Hemeresia, que tranqüiliza, Locheia, a que cuida do
sangue no parto, Mogostakia, ajuda diminuir as dores do parto, Oraia, protege
os fetos, Paeonia, a curadora, Soodina, a salvadora nos partos difíceis.
Protetoras das mulheres: Alexeteira, a campeã nas competições, Alexiares, afasta as maldições, Alexibelemnos, protetora da vida, Angelos, mensageira, Aristoboulia e Boulephorus, conselheiras, Berekynthia, traz sabedoria, Brauronia e Philomeirax, protetoras das meninas, Britomartis, a doce donzela cretense, Despoena, a Senhora, Dynatera, a poderosa, Eleutho, a libertadora, Eulinos, a tecelã, Kalliste e Parthenia, lindas donzelas, Keladeina, que dá a boa voz, Kleito, das invocações, Kytheria, para esconder e proteger, Hegemone, da dança, Hiereia, a sacerdotisa, Iasoria , a curadora, Lathrios, dos segredos, Metapontina, guia e protege nas mudanças, Nikephoros, dá a vitória, Opis, do silêncio, Pamphylaia, providencia tudo, Pasikrateia, fortalece, Prothurea, fica na frente da porta, Progoneia, a ancestral, Polymastis, com muitos seios, Skiatis, das sombras, Thekla, a famosa, Themisto, do oráculo, Upis, a que vigia.
Protetoras das mulheres: Alexeteira, a campeã nas competições, Alexiares, afasta as maldições, Alexibelemnos, protetora da vida, Angelos, mensageira, Aristoboulia e Boulephorus, conselheiras, Berekynthia, traz sabedoria, Brauronia e Philomeirax, protetoras das meninas, Britomartis, a doce donzela cretense, Despoena, a Senhora, Dynatera, a poderosa, Eleutho, a libertadora, Eulinos, a tecelã, Kalliste e Parthenia, lindas donzelas, Keladeina, que dá a boa voz, Kleito, das invocações, Kytheria, para esconder e proteger, Hegemone, da dança, Hiereia, a sacerdotisa, Iasoria , a curadora, Lathrios, dos segredos, Metapontina, guia e protege nas mudanças, Nikephoros, dá a vitória, Opis, do silêncio, Pamphylaia, providencia tudo, Pasikrateia, fortalece, Prothurea, fica na frente da porta, Progoneia, a ancestral, Polymastis, com muitos seios, Skiatis, das sombras, Thekla, a famosa, Themisto, do oráculo, Upis, a que vigia.
“Aquela que traz a
luz”: Amphipyros, que
leva a tocha, Delia, a Brilhante, Koryphasia, Donzela da luz, Leukione, a
Branca Brilhante, Phoebe, a luminosa, Pyronia, guardiã do fogo, Selaphoros, que
transmite a luz.
Nos seus cultos e
festivais (como Mounichion, em abril em Athenas ou Nemoralia em agosto em
Roma), celebrados nas noites de lua cheia eram acesas fogueiras e feitas
procissões com tochas; as sacerdotisas apareciam em carruagens puxadas por
cervos e traziam bolos cobertos com velas para as oferendas. Em Brauronia, onde
tinha um templo dedicado a Ártemis, meninas pré-púberes vestidas com túnicas
tingidas com açafrão e nomeadas de “ursinhas” eram iniciadas e preparadas para
realizar danças ritualísticas imitando os movimentos das ursas. As sacerdotisas
usavam máscaras de argila branca para representar a Lua e dançavam nas
clareiras nas noites de lua cheia.
Muitas eram as
lendas sobre as ninfas de Ártemis, as jovens que corriam junto com as corças e
os cães nas florestas e se defendiam dos perseguidores com seus arcos e flechas
como fazia a própria Deusa. Muitas delas ao invocarem a proteção de Ártemis –
quando ameaçadas pela violência ou cobiça masculina – eram transformadas em
árvores ou animais, como Daphne que se tornou em louro (planta sagrada e
oracular), Aretusa em uma fonte ou Atalanta em leoa. Ártemis matava os seus
perseguidores como aconteceu com Orion e Acteon; também matou a serpente Python
e o gigante Tithyus, que atormentavam sua mãe, sendo a única deusa que auxilia
e defende a mãe.
Para as mulheres
que seguem o Caminho da Deusa, Ártemis personifica o espírito feminino
independente, que lhes possibilita estabelecer e defender seus próprios
objetivos e escolhas, agindo com confiança e determinação, sem precisar da
aprovação masculina. Sentindo-se completas em si e por elas mesmas, o arquétipo
de Ártemis reencontrado e reavivado pelas mulheres modernas, lhes confere a
habilidade de se concentrar naquilo que é importante, sem se perturbar com a
competição, as exigências ou necessidades alheias. O enfoque nos objetivos e a
perseverança facilitam a superação dos desafios e obstáculos, direcionando a
vontade para alcançar o alvo estabelecido.
As metas do
movimento feminista podem ser resumidas pelas qualidades de Ártemis:empreendimento,
independência, competência, compaixão (pelos oprimidos, crianças, mulheres,
animais). A área dos interesses abrange uma gama variada como: defesa social,
socorro às mulheres perseguidas, maltratadas ou abusadas, combate à pornografia
e exploração infantil, punição dos estupros e incestos, o empenho para a
divulgação e prática dos partos naturais com auxilio das parteiras, a conexão,
o respeito e a gratidão permanente perante a natureza, as competições
esportivas para jovens, atividades e preocupações ecológicas, solidariedade,
parceria e irmandade entre as mulheres, o resgate dos valores e cultos lunares.
Os desafios
representados pela exacerbação do arquétipo de Ártemis são: negação da
vulnerabilidade própria, indiferença às necessidades alheias (frieza e
crueldade com os homens e animais), hostilidade, raiva destrutiva,
distanciamento emocional, falta de atenção, cuidados ou compaixão perante os
outros, desvalorização das qualidades receptivas, nutridoras e protetoras
femininas. A tarefa para retificar os excessos ou faltas deste arquétipo consta
na identificação dos padrões positivos e negativos, reconhecendo e eliminando a
auto-sabotagem, o alinhamento com os ciclos lunares e naturais, atividades
físicas, interesse pela natureza, a definição do que precisa renovar, inovar,
descartar, começar ou completar, a valorização da amizade com mulheres.
A sabedoria que
Ártemis nos oferece nos dias de hoje é descobrir, defender e expressar a
verdade e o poder pessoal, ter centramento e enfoque necessários para alcançar
objetivos, complementar as polaridades internas e externas, ampliar os
interesses saindo do micro e do individual para o macro e o global, unir razão
e emoção, instinto e intuição, força e compaixão, rumo para a unificação e a
total integração do ser.
Parabens pelo blog! Ele e´ maravilhoso.
ResponderExcluirbeijos, Mailane Sampaio.
Muito obrigada Mailane, o seu comentário e de outros leitores me incentiva a pesquisar e escrever coisas importantes sobre arquétipos e mitologia.
ExcluirBjos