Parei hoje para pensar sobre valores sociais, principalmente
naquilo que nos une ou nos afasta das pessoas na vida cotidiana. Antes, eu explico o
que essa temática faz em um blog de arquétipos mitológicos: os arquétipos se encontram entrelaçados na
psique, sendo praticamente impossível isolá-los, bem como a seus sentidos,
fazem parte do que somos e pensamos.
Valores nos rementem a Juízo de valor
e preconceito. Vamos começar falando de juízo de valor. De uma
forma geral, a expressão juízo de valor está relacionada a
uma opinião individual. E por que isso seria preocupante? Porque a opinião de
um indivíduo é formada quase sempre por seu sistema de crenças e pela
cultura a qual ele pertence. A expressão Juízo de valor passa a ser
composta por declarações que parecem ser de mão única e inserida em determinado
sistema de valores. Embora as proposições de moral e ética não sejam verdades
universais, e sim conjecturas que brotam do contexto cultural, para o sujeito elas
passam a ser a única verdade ganhando um contexto paroquial.
Por exemplo: Nietzsche
distingue na cultura Grega dois princípios fundamentais, para observar a questão
da repressão da sexualidade e negação do prazer que são espécies de “Juízos morais” presentes até hoje na
cabeça de muita gente. Numa das suas
primeiras obras, Origem da Tragédia (1871), a cultura Européia: o
Apolíneo e Dionisíaco.
O princípio Apolíneo (do
deus Apolo) simboliza a serenidade, claridade, medida, racionalidade.
Corresponde à imagem tradicional da Grécia Clássica e que aparece
frequentemente associada às figuras de Sócrates e Platão. O Dionisíaco (do deus
Dioniso) simboliza as forças impulsivas, o excesso transbordante, o erotismo, a
orgia, a afirmação da vida e dos seus impulsos (força, vontade).
Os dois princípios
estavam presentes na tragédia e na cultura grega, antes da influência de
Sócrates se fazer sentir. Ele submete os impulsos vitais e a sua energia
excessiva aos constrangimentos da razão. Esta “viragem” na filosofia coincide
com aquilo que Nietzsche considera a decadência da tragédia, preconizada por Eurípides,
mas também ligada ao aparecimento da comédia. A partir de Sócrates-Platão a
cultura ocidental seria marcada pela repressão dos instintos vitais e a negação
do prazer
E de onde vem o
malfadado preconceito? Heller (1985) afirma que todos os preconceitos são
produto de falsos juízos de valor, uma
categoria do plano cotidiano que implica necessariamente em ultrageneralizações de conteúdos
tradicionalmente difundidos ou a partir de conteúdos afetivos estabelecidos
pelas próprias experiências anteriores.
Esses falsos juízos de valor são
consolidados pelas classes dominantes e o indivíduo assimila conteúdos, seja por
uma tomada de posição moral e/ou assimilação de uma estereotipia, configurando uma
situação de alienação do comportamento e pensamento cotidianos.
Quando o indivíduo se
aliena, ele se torna incapaz de romper com qualquer formação do pensamento ou
do comportamento, mesmo em situações cotidianas em que tais “padrões”
necessitem de uma superação. Esse indivíduo experimenta um empobrecimento e
esvaziamento da sua individualidade, de maneira que passa a atuar através de um
conjunto de atividades cristalizadas, rígidas, o que demonstra uma hipertrofia
da estrutura da vida cotidiana (Rossler, 2004).
Neste sentido, o modo de
funcionamento do cotidiano alienado implica na formação de um indivíduo que
reproduz padrões de pensamentos e ações pré-estabelecidos, recorrendo a
pensamentos ultrageneralizadores, na impossibilidade de tomar decisões de
caráter individual.
HELLER, A. (1985) O cotidiano e a
história. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
MIRANDA, S.F. Preconceito, cultura e
subjetividade: uma análise comparativa de dois posicionamentos teóricos: acessado
em fevereiro/ 2013 http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/anexos/AnaisXIVENA/conteudo/pdf/trab_completo_123.pdf,
NIETZSCHE, Friedrich. A Origem da Tragédia
ROSSLER, J. H. (2004). O desenvolvimento do psiquismo na vida cotidiana: aproximações entre a psicologia de Aléxis N. Leontiev e a teoria da vida cotidiana
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