terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

PRECONCEITO E ALIENAÇÃO DE SI MESMO





Parei hoje para pensar sobre valores sociais, principalmente naquilo que nos une ou nos afasta das pessoas na vida cotidiana. Antes, eu explico o que essa temática faz em um blog de arquétipos mitológicos:  os arquétipos se encontram entrelaçados na psique, sendo praticamente impossível isolá-los, bem como a seus sentidos, fazem parte do que somos e pensamos.

Valores nos rementem a Juízo de valor e preconceito.  Vamos começar falando de juízo de valor.  De uma forma geral, a expressão juízo de valor está relacionada a uma opinião individual. E por que isso seria preocupante? Porque a opinião de um indivíduo é formada quase sempre por seu sistema de crenças e pela cultura a qual ele pertence. A expressão Juízo de valor passa a ser composta por declarações que parecem ser de mão única e inserida em determinado sistema de valores. Embora as proposições de moral e ética não sejam verdades universais, e sim conjecturas que brotam do contexto cultural, para o sujeito elas passam a ser a única verdade ganhando um contexto paroquial.
Por exemplo: Nietzsche distingue na cultura Grega dois princípios fundamentais, para observar a questão da repressão da sexualidade e negação do prazer que são espécies de “Juízos morais” presentes até hoje na cabeça de muita gente.  Numa das suas primeiras obras, Origem da Tragédia (1871), a cultura Européia: o Apolíneo e Dionisíaco.
O princípio Apolíneo (do deus Apolo) simboliza a serenidade, claridade, medida, racionalidade. Corresponde à imagem tradicional da Grécia Clássica e que aparece frequentemente associada às figuras de Sócrates e Platão. O Dionisíaco (do deus Dioniso) simboliza as forças impulsivas, o excesso transbordante, o erotismo, a orgia, a afirmação da vida e dos seus impulsos (força, vontade).
Os dois princípios estavam presentes na tragédia e na cultura grega, antes da influência de Sócrates se fazer sentir. Ele submete os impulsos vitais e a sua energia excessiva aos constrangimentos da razão. Esta “viragem” na filosofia coincide com aquilo que Nietzsche considera a decadência da tragédia, preconizada por Eurípides, mas também ligada ao aparecimento da comédia. A partir de Sócrates-Platão a cultura ocidental seria marcada pela repressão dos instintos vitais e a negação do prazer
E de onde vem o malfadado preconceito? Heller (1985) afirma que todos os preconceitos são produto de falsos juízos de valor, uma categoria do plano cotidiano que implica necessariamente em  ultrageneralizações de conteúdos tradicionalmente difundidos ou a partir de conteúdos afetivos estabelecidos pelas  próprias experiências anteriores. Esses falsos juízos de valor são consolidados pelas classes dominantes e o indivíduo assimila conteúdos, seja por uma tomada de posição moral e/ou assimilação de uma estereotipia, configurando uma situação de alienação do comportamento e pensamento cotidianos. 
Quando o indivíduo se aliena, ele se torna incapaz de romper com qualquer formação do pensamento ou do comportamento, mesmo em situações cotidianas em que tais “padrões” necessitem de uma superação. Esse indivíduo experimenta um empobrecimento e esvaziamento da sua individualidade, de maneira que passa a atuar através de um conjunto de atividades cristalizadas, rígidas, o que demonstra uma hipertrofia da estrutura da vida cotidiana (Rossler, 2004). 
Neste sentido, o modo de funcionamento do cotidiano alienado implica na formação de um indivíduo que reproduz padrões de pensamentos e ações pré-estabelecidos, recorrendo a pensamentos ultrageneralizadores, na impossibilidade de tomar decisões de caráter individual. 
HELLER, A. (1985) O cotidiano e a história. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
MIRANDA, S.F. Preconceito, cultura e subjetividade: uma análise comparativa de dois posicionamentos teóricos: acessado em fevereiro/ 2013 http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/anexos/AnaisXIVENA/conteudo/pdf/trab_completo_123.pdf,
NIETZSCHE, Friedrich. A Origem da Tragédia

ROSSLER, J. H. (2004). O desenvolvimento do psiquismo na vida cotidiana: aproximações entre a psicologia de Aléxis N. Leontiev e a teoria da vida cotidiana em Agnes Heller. Cad. Cedes: Campinas, vol. 24, n. 62, p. 100-116, abril. Acessado em fevereiro/2007, de http://www.cedes.unicamp.br.

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