segunda-feira, 19 de novembro de 2012

De Sartre ao Cisne dúbio de cada um: o inferno são os outros?

"Entretanto, cada um tem no seu próximo um espelho, no qual vê claramente os próprios vícios, defeitos, maus hábitos e repugnâncias de todo o tipo. Porém, na maioria das vezes, faz como o cão, que ladra diante do espelho por não saber que se vê a si mesmo, crendo ver outro cão".      Schopenhauer


Você já deve ter ouvido falar nesta frase: "O inferno é o outro." Sartre foi quem a criou. E representa muito bem a dinâmica da projeção da Sombra.

Se você meu caro leitor assistiu o filme Cisne Negro, pode verificar a ocorrência desse fenômeno. Natalie Portman (Nina) projeta sua Sombra (atributos renegados por sua persona) em Mila Kunis (Lily). Nina se sente assombrada, perseguida por Lily.





Porém, são seus próprios demônios que a perseguem. "Ela é o maior obstáculo para si mesma", conforme ouviu de seu Ânimus, representado no filme por seu professor.

É o que muitos de nós, fazem muitas vezes: enxergam no outro aquilo que dentro de si mesmos mais os assombra.

Nina renega seu lado "cisne negro" por estar tão identificada com sua persona lindinha, certinha, bonitinha, "branquinha." Porém, para representar o papel de protagonista na peça, precisa desenvolver o outro lado, aquele que vai além do socialmente aceito. É a necessidade de desenvolver e expressar (o ideal que seja conscientemente) a Sombra.

Como tem medo desses atributos em sua natureza, ela os projeta em Nina. Sendo ela o seu oposto: sensual, rebelde, solta e espontânea, vive em sua vida o que Nina tem tanto horror de fazer, por mais que, em seu íntimo, deseje viver assim.

Quantas vezes nós não nos sentimos ao mesmo tempo fascinados e raivosos diante daquela pessoa que tem um jeito de ser que, no fundo, queríamos ter e expressar? Sentimos inveja? Mas num mesmo nível, admiramos. Somos atraídos e, simultaneamente, repelidos por essa pessoa. Na verdade, não é a pessoa em si, mas aquilo que ela representa: o NÃO VIVIDO em nós. Eis a Sombra.

O problema da projeção se tornar perigosa ocorre quando não se vê o outro como o reflexo de nós mesmos. O outro vira o inimigo-mor que precisa ser aniquilado para que eu não precise ter um espelho que reflita aquilo o que eu reluto em viver, desenvolver, experimentar, expressar. Os preconceitos muitas vezes surgem nesse contexto.

Por fim,

"O inferno são os outros. Projetamos nos outros a nossa realização e aguardamos deles, algo que amenize o vazio que nos habita."   (Sartre)


Referencia:
esqueletodoarmario
yub-universosimbolico

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