Cremes clareadores: Febre na Ásia
A mulher saiu
do lar. Já é maioria nas universidades, adquiriu direitos que foram a muito
tempo objeto de luta por muitas outras “deusas-guerreiras”de outras épocas. Não
satisfeita, encontrou lugar para discutir seu papel no mundo e seu lugar
consciente e inconsciente ganhou espaço e o mais importante: sentiu-se capaz de
amar como bem lhe aprove. No século XXI, algumas mulheres resolveram resgatar
antigos costumes e retornar ao lar, porque QUER e porque é o seu DESEJO. Desejo
totalmente lícito, conforme a “pele que foi arrancada” e o retorno ao seu
próprio self.
Com tanto para
desejar e como ser desejante a mulher consegue decidir pela própria beleza. Ai
começa a catástrofe. Essa semana passando por um local conhecido, eu vi uma
mulher muito querida e muito bonita ou pelo menos ERA. O problema é que não a
reconheci. É exímia profissional e mãe. E, mesmo depois dos quarenta, mantinha
o frescor da beleza de menina, não abusava de muito para ser bonita. O problema
são as invenções. Eu cumprimentei a todos e falei e não falei com ela, porque
reconhecia e não reconhecia. A minha sorte é que ela usava uma espécie de
crachá. Lamentei internamente o que fez com o rosto. O nariz estava torto, a
boca estava cheia de botox e preenchimentos. O pior é que eu não conseguia
desviar os olhos, a diferença era muito gritante.
É preciso salientar
outro fator: as famosas “as mexidas no corpo”. Apesar de várias pessoas
relatarem que o pós-operatório de uma cirurgia plástica como “atropelamento de
caminhão” o número de cirurgias só aumentam no mundo. E o que faz uma pessoa colocar silicone? São
vários os motivos que levam uma mulher a realizar uma cirurgia para aumento das
mamas: está descontente com os seus seios porque são pequenos, são desproporcionais
em relação ao corpo, cada seio tem um tamanho diferente e também por motivos de
reconstrução devido a doença ou acidente.
De acordo com
o Journal of Plastic, Reconstructive & Aesthetic Surgery, em cerca de 80%
dos casos não há nenhuma necessidade médica e as pacientes buscam apenas
mudanças na aparência. Os outros 20%, indiretamente, também intentam melhorias
estéticas, mas se referem às cirurgias de reconstrução, pós-tratamento para o
câncer mamário.
Pensem na
seguinte frase: A mulher indiana moderna é independente, dona de si – e não é
obrigada a viver com sua pele escura. Essa é a mensagem transmitida por
um número crescente de companhias mundiais de cosméticos e produtos para o
cuidado da pele, que estão expandindo suas linhas de produtos e verbas
publicitárias para a Índia para capitalizar sobre o aumento dos orçamentos
femininos. Uma linha comum engloba cremes e sabonetes que supostamente clareiam
o tom da pele. Eles são normalmente divulgados com uma mensagem de “poder” sobre
assumir a própria vida ou ir adiante. “Metade do mercado de produtos
para o cuidado da pele na Índia é de cremes de clareamento”, diz Didier
Villanueva, gerente da L'Oreal India, e entre 60 a 65% das mulheres indianas
usam esses produtos diariamente. A L'Oreal entrou nesse mercado específico há
quatro anos com produtos Garnier e L'Oreal, mas até agora tem apenas uma
pequena fatia do mercado, disse ele.
Apesar de o
desejo de embranquecer a pele cruzar o espectro social, é entre as classes
médias e baixas que a indústria tem mais adeptos. Os produtos são vendidos para
gente jovem e impressionável e para mulheres pobres, às quais vendem embalagens
econômicas. É exploração. Isso não é potencializar a mulher, potencializar a
mulher é fazê-la sentir-se bem do modo como nasceu, de forma que não sinta que
tem de comprar esse produto. E, além disso, à diferença do comprimento do
cabelo, de ser mais ou menos gorda, a cor da pele é impossível de mudar.
Por fim, não
basta clarear a pele, tem que clarear a vagina. Indiano é acusado de racismo
após lançar publicidades de creme que clareia a vagina: Um jovem casal
indiano - de pele bem clara, é bom notar - passa o tempo na sala de casa. Ele
lê o jornal, impassível. Ela, entre caras e bocas, demonstra a frustração pela
desatenção do marido. Eis que entra em cena o creme clareador Clean and Dry
Intimate Wash, que não só tem ph balanceado como clareia a pele de moçoilas
atormentadas por uma vagina insuficientemente branca. Et voilà: a paixão e a
alegria voltam a reinar entre os pombinhos.
Segue Abaixo o
vídeo:
Agora o mais
aterrador: Sabe a Unilever? Da campanha Beneton? Da campanha Dove de beleza
real? Pois bem. Pensem na seguinte “história de amor” divulgada pela Poind’s da
Unilever na Índia:
Mocinho branco se separa da
mocinha morena e se compromete com a mocinha branca. Mocinha morena, com a
auto-estima em frangalhos, descobre o milagroso creme Ponds White Beauty e
começa a usá-lo. Mocinho branco e mocinha cada vez menos morena se encontram
casualmente algumas vezes. Quando a mocinha morena já está com a pele
suficientemente clara, mocinho branco a persegue e os dois terminam juntos.
Tradução: clareie a sua pele para conquistar um macho
(preferentemente, de pele clara também). Ser escuro é feio. Só são viáveis as
relações entre pessoas de mesma cor. A sua autoestima está ligada à cor
da sua pele. Se você não gosta da cor da sua pele, tudo bem, nenhum problema.
Temos um creminho para isso. A mocinha que clareou a pele é mais nobre que a
mocinha de pele naturalmente clara, o que reforça o caráter ético de quem usa o
produto, dando aquela massageada na consciência.
Eis os vídeos:
PARTE I
PARTE II
PARTE III
PARTE IV
PARTE V
Para finalizar o que mais surpreende, é que nenhuma dessas mulheres que lutam para se tornarem desejáveis ao outro se libertam na hora da sua escolha. A verdade é que a própria mulher ainda se mutila para ser desejável ao outro, mas não muda os seus conceitos de liberdade e ação. Não permitem a si nem ao próximo a liberdade de ser, viver e agir conforme a própria livre consciência. Fico a pensar: muitas garotas e mulheres são mutiladas no mundo oriental para não terem prazer, enquanto muitas mulheres e até garotas ocidentais mutilam o corpo, a pele e a consciência para dar prazer.
Por isso dou preferência para mulheres naturebas e que se cuidam. Uma mulher com saúde física, normalmente tem saúde mental. E uma mulher com saúde mental jamais fará uma cirurgia desnecessária dessa.
ResponderExcluirBasta uma boa alimentação, um pouco de exercício físico regular, muitos sorrisos, pouco estresse e muito sexo - de preferência comigo - para ser bonita ou pelo menos despertar desejos. Uma mulher sorridente e confiante é uma criatura tão graciosa...
Não precisa colocar plástico na cara (desculpe-me pelo linguajar) nem parecer uma boneca.
Sabe aquele monte de pó que as mulheres colocam no rosto? Credo. Uma fez quase tive uma intoxicação ao beijar uma garota.
Nunca gostei de mulher maquiada - ela nem sempre estará maquiada (principalmente quando estivermos sozinhos em casa) e também perderá tempo se maquiando ao invés de perdê-lo comigo.
Silicone só em último caso - mulher com autoestima lá embaixo ninguém merece - e desde que não comprometa a pegada forte, rs. Prefiro um par de seios pequenos sempre disponível do que um grande, frequentemente indisponível, que exija muitos cuidados clínicos ou que ofereça riscos à saúde da mulher.
Eu acredito que beleza seja fundamental, mas com parcimônia, porque saúde é o que interessa e o resto não tem pressa, rs.
Nós homens também sofremos com as imposições da sociedade - circunstância que raramente uma mulher lembra.
Se para vcs a beleza é motivo de tanta preocupação, para nós é o ato sexual. Sei que daqui uns 15 ou 20 anos minha virilidade diminuirá - não, acho que daqui 25 anos, rs.
Por isso, e para evitar viagra, ataques cardíacos e abstinência sexual me cuido agora.
Quanto ao clareamento de pele eu realmente acho ridículo. Uma pele moreninha é tão bom, aliás todas são, rs. Sendo uma mulher charmosa, simpática, minimamente atraente e natureba, eu já teria predisposição a namorar, se estivesse sozinho, rs.
Além disso, a pele morena é mais resistente contra doenças de pele e no Brasil ela é a mais desejada.
O ideal seria variar: num dia uma negra, noutro uma oriental, noutro uma branquinha e assim por diante, rsrsrsrsrsrs, mas como não pode - não sei porquê -, para mim, o critério saúde e formosura são determinantes, independentemente da cor da pele.
Por fim, e para exercer um pouco a advocacia diabólica, se eu fosse um empresário do ramo cosmético ou um publicitário a serviço do mencionado ramo, faria a mesma espécie de propaganda para as indianas.
A ética e a responsabilidade social são secundárias no meio empresarial. E isso não é necessariamente ruim, pois sem a liberdade negocial, sem a busca pelo lucro e sem o estímulo à criatividade, viveríamos uma ditadura moralista, conservadora e pouco criativa.
Vou deitar, estou cansado e acho que escrevi um monte de besteiras.
Até!
O marketing só se aproveita daquilo que reina na sociedade de forma velada: o preconceito e o racismo. Se não existissem nenhum dos dois, tais comerciais também não existiriam, pois não existiriam pessoas com a auto-estima abalada para comprá-los.
ResponderExcluirO marketing só se aproveita de uma fraqueza que a própria sociedade incutiu na mente dos mais fragilizados, representantes das minorias.
Ora, é só olharmos para as propagandas de cabelos brasileiras e a quantidade de produtos alisantes aqui no Brasil, nada mais do que a desvalorização de uma característica de um grupo de pessoas que foram criadas ouvindo que suas características são feias, "ruins", "bombril", "duro", "pinxain" entre outros. Quem quer ser desvalorizado desta maneira? É óbvio que esta pessoa vai crescer com autoestima abalada e toda fragilizada, dificilmente essa mulher vai se sentir bem, confiante de que é bela do jeito que é, pois a desvalorização social é tanta que a pessoa acaba acreditando que é de fato feia, horrível e que deve mudar.
A mesma coisa na Ásia, que deve possuir uma cultura que desvaloriza em demasia a cor da pele escura, fazendo com que muitas meninas cresçam se achando horríveis. Tal como as meninas de cabelos crespos brasileiras se acham horríveis com seus cabelos ao natural.
Um outro exemplo são a quantidade de produtos para emagrecer, no qual aplica-se a mesma regras: pessoas que crescem em meio a uma sociedade que lhes atira pedras simbólicas de todos os lados, e tudo por um único motivo: ser dotada de uma característica que não lhes conferem o título de "beleza".
Então, não acho que os comerciais devem ser a preocupação, pois eles só são o reflexo daquilo que milhares de mulheres vivem diariamente de forma velada. O comercial só foi lá e ilustrou aquilo que a sociedade tenta esconder e fingir que não existe. Quando o racismo e o preconceito aparece sem mascaras em um comercial, o povo se choca e acusa o comercial. Mas fecham os olhos para os preconceitos cotidianos, aqueles velados e disfarçados. Só sabem acusar aqueles comerciais mais sinceros e diretos, que esfregam na nossa cara aquilo que a fingimos não existir: o racismo e o preconceito.
Olá Priscila, fiquei muito impressionada com o seu comentário porque vc além de se expressar bem é muito perspicaz. Espero sinceramente que escreva em outras linhas de expressão porque precisa ser ouvida, ainda há muita desinformação.
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