terça-feira, 30 de outubro de 2012

O mito do girassol: chorar ou fazer as unhas? Ninfa ou deusa?

Clítia, de Evelyn Pickering De Morgan (1886-87)
           Já diz o ditado popular: decepção não mata, ajuda a viver. Depois de refletir sobre isso, pensei na diferença de deusas e ninfas diante de uma decepção. Em variados mitos, a diferença no modo de agir diante de uma adversidade é grande. Ninfas choram até secarem (vide Narciso, Hermafrodito), deusas criam uma flor em cima de uma decepção (vide Afrodite e Adônis) .
           A decisão em ser uma e outra cabe somente a você. Pensando nisso, resolvi contar um mito: muitas pessoas conhecem uma flor conhecida como girassol e que tem um comportamento peculiar que é a razão do seu nome. Os gregos contavam um mito para explicá-la. Clítia ou Clítie, era a ninfa do girassol e amava Helius, o deus Sol. Quando ele a abandonou pelo amor de Leucotéia, sofrendo Clítia começou a definhar. Ficava durante todo o dia sentada no chão frio com sua tranças desatadas sob os ombros. Passavam-se os dias sem que ela comesse ou bebesse, alimentando-se apenas das próprias lágrimas.
           Durante o dia contemplava o Sol desde o nascente ao poente. Era a única coisa que via e seu rosto estava sempre voltado para ele. À noite, curvava-se para chorar. Por fim, seus pés criaram raízes no chão e o rosto transfigurou-se em uma flor, que passou a se mover sobre o caule sempre acompanhando o sol. Assim nasceu o heliótropo ou o girassol.
           Para resumir, o sol passa todos os dias e segue seu curso, vivendo a sua própria vida, enquanto a ninfa Clitia permanece enraizada no mesmo lugar perdendo oportunidades de viver.
          Afrodite e Adônis se apaixonaram, mas a felicidade de ambos foi interrompida quando um javali furioso feriu de morte o rapaz. Sem poder conter a tristeza causada pela perda do amante, a deusa instituiu uma cerimônia de celebração anual para lembrar sua trágica e prematura morte.
           Durante os rituais fúnebres, as mulheres plantavam sementes de várias plantas floríferas em pequenos recipientes, chamados "jardins de Adônis". Entre as flores mais relacionadas a esse culto estavam as rosas, tingidas de vermelho pelo sangue derramado por Afrodite ao tentar socorrer o amante, e as anêmonas, nascidas do sangue de Adônis
           Ao comparar a maneira como Clítia e Afrodite lidaram com a dor, cabe perguntar como você lidaria com uma adversidade: ficaria no mesmo lugar perdendo a oportunidades de viver ou iria a luta e criaria uma flor de rara beleza? No contexto de deusas e ninfas, opte por ser deusa. Se ficar consternada ou chateada, abrace a dor se preciso for, mas continue a andar e seja ativa. Criar beleza é possível em qualquer contexto. Beleza se cria em momentos como ir ver a lua, sair com amigos ou simplesmente ir ao salão fazer as unhas. Entre ficar consternada com uma decepção e ir a luta de uma maneira bela, mostre o seu valor e simplesmente aja de maneira literal: faça as unhas, faça algo por você.

3 comentários:

  1. Entre um gira-sol e uma rosa, sempre preferi a rosa. E embora, seja difícil plantar flores em meio a secura das dificuldades que os outros, ou nós mesmos, por vezes, nos impomos no jardim das nossas vidas, o importante é remover os cascalhos, colocar mais e novo adubo na "terra". Assim, plantar rosas para que possamos sentir o frescor e o perfume que sai de dentro das pétalas, que dá a sensação de beleza e liberdade, que só as divas têm.
    Betania.

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    1. Amiga querida;

      As dificuldades servem para que vejamos o quão poderosas podemos ser. Se não houvessem os cascalhos e espinhos, não poderíamos enxergar a docilidade e beleza das rosas. Ainda vai chegar o dia que toda a escolha levará uma mulher ao brilho.

      bjs

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