terça-feira, 26 de março de 2013

Filoctetes, Ulisses e Neoptólemo: a difícil ou a generosa arte da convivência


Tudo se torna repugnante quando somos falsos à nossa própria natureza e nos portamos de forma indecorosa [vv. 902-3]. Versão portuguesa a partir da inglesa de Edmund Wilson.

Sófocles in: Filoctetes




Sófocles


Recentemente, ou não tão recentemente escrevi a história do jovem Neoptólemo (filho de Aquiles e um dos heróis de Tróia) e sua jornada para roubar as armas de Heracles (Hércules) que estavam em poder de um velho ferido chamado Filoctetes. Mesmo não considerando uma boa ideia, ele foi convencido a tal ato pela astúcia e pragmatismo do herói da Odisséia Ulisses (Odisseu). Chegando a ilha e convivendo com Filoctetes ele se deparou com outro discurso: o que falava com sabedoria, mesmo na amargura. Assim, o jovem em seu caminho para torna-se homem pode a principio ter mentido e enganado, mas teve entendimento para ser a voz madura dos três personagens, garantindo a vitória sobre Tróia.

O que e entendo deste breve resumo da obra de Sófocles? Pela convivência um jovem aprendeu a ser um guerreiro. Neoptólemo tinha recebido por parte de seu pai Aquiles uma educação que lhe garantiu honradez e nobreza, mas isso não foi suficiente para que ele se tornasse um herói como seu pai.

Foi preciso que o jovem convivesse com os lados bons e ruins de dois importantes heróis para torna-se grande guerreiro. Ulisses era astuto e pragmático por outro lado, queria a vitória a qualquer custo não importando se precisava corromper um jovem, roubar armas ou sequestrar um velho. Filoctetes era homem de muita sabedoria, mas que por outro lado se considerava vítima das circunstancias.

O que Filoctetes não relatava em seu discurso vitimista era a sua culpabilidade na questão do seu abando por dez anos em uma ilha após ser mordido por uma cobra ao corromper o templo de Athena. S
eus companheiros resolveram abandona-lo em função de gritos lacerantes de dor e do cheiro fétido da sua ferida 

Sobre a postura dos dois heróis cabe perguntar - Por que toda vítima nunca enxerga suas próprias responsabilidades? Por que algumas pessoas vivem de passado, culpando sua origem, desculpando as suas derrotas em função da do local ou da situação de classe onde nasceu?

Ulisses por outro lado, em prol de um bem maior achou que era certo sequestrar Filoctetes para que este fosse lutar em Tróia. Mas quando foi conveniente ele o deixou abandonado em uma ilha. Por que algumas pessoas acreditam que as outras só existem no mundo quando lhe são convenientes? Por que algumas pessoas acreditam que em prol de um "bem maior" é justificável passar por cima dos princípios das outras? Por que tem pessoas que acreditam que são melhores do que as outras?

Hoje eu vi gente assim. Hoje pode ser que eu fui gente assim. Hoje pode ser que preciso passar pelo amadurecimento de Neoptolémo.

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